quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Minha doce Bárbara

Quando a Bárbara era bebé de dias apenas, tal como todas as mães olhava demoradamente para ela, para ver todos os seus traços, associar aqueles pequeninos gemidos às boquinhas que fazia. Tentar capturar um daqueles sorrisos que apareciam como reflexo mas que eram a coisa mais deliciosa. Numa dessas vezes personifiquei a fada madrinha de varinha de condão, e quis atribuir um dom, o da gentileza. A Bárbara era uma bebé gentil. E eu quero que seja sempre. Já na minha barriga eu achava que ela tinha muita consideração por sua mãe, pois não era uma bebé que pontapeava sem dó nem piedade, mas fazia-se notar, muito graciosa nas suas pancadinhas e eu adorava senti-la, e adorava as conversas que já então tínhamos, só nós as duas. 
Depois, quando já dirigia os seus sorrisos, era generosa, e não havia quem mantivesse uma cara carrancuda perto dela. 
Agora que está a quatro meses dos dois anos, é muito mais uma menina do que um bebé. Uma menina que tem a sua personalidade. Eu detesto ouvir "A "X" tem uma personalidade muito forte!" Bah, tretas. Para mim isso é o mesmo que dizer que a "X" está a ficar uma pequena pestinha sem ninguém que lhe meta um travão. 
Eu fui como que surpreendida com a primeira birra da Bárbara. Na minha fantasia ela ia ser sempre aquela menina sorridente e fácil de cuidar. Quando passou a dar muita luta numa simples muda de fralda, quando começou a atirar-se para o chão por querer o iPad, não foi imediato perceber que ela não era assim, que ela não era agora uma menina má. Mas que era uma nova fase, a fase da omnipotência, do "quero, posso e mando e ai de quem não me fizer a vontade". E não tem sido fácil. 
Por haver dias que começam em desânimo com uma menina com má cara ainda antes de a tirar da cama. Que chora porque não quer largar a escova de dentes, porque quer ir brincar em vez de vestir a bata, que quer maçã e bolacha e pão com manteiga e água, tudo no minuto em que estamos a sair de casa. Porque no meio disto tudo tenho que perceber que não estamos a travar uma guerra e ela não é minha inimiga. Bom, talvez tenha os meus próprios problemas de Ego para resolver. Mas no meu íntimo, às vezes é o que sinto. 
Mas acho que tem corrido bem. Não sou a implacável bruxa do "Não", nem a frouxa do deixa andar. Temos conseguido um bom equilíbrio entre o que pode e não pode, o que deve e não deve, quando e como. É muito gratificante este papel, devo dizer. Ainda que difícil, ainda que por vezes tenha medo que ela goste menos de mim. Mas depois tenho a prova de que não é assim, muito pelo contrário. Em dias como o de hoje, em que acorda abraçada à Lala e ao Urso, e os quer trazer para mudar a fralda e beber o leite. Em que me dá o melhor sorriso do mundo, um beijo e umas pequenas e doces mãos na minha cara e no meu cabelo. Em que conversa comigo, me faz perguntas, me conta histórias na sua língua.
Em dias como este sei que estou a fazer um bom trabalho, reúno forças para os dias menos bons, vejo a vida sem nuvens negras e sem óculos cor-de-rosa. Vejo a realidade. Tenho para mim, que a melhor maneira de ver as coisas é vê-las mesmo assim: tal e qual como elas são.

4 comentários :

  1. :)
    gostei tanto deste texto.
    gostei tanto de ver esta realidade assim.
    gostei tanto de saber que não estou sozinha em muitos dos pensamentos, medos, e dificuldades que sinto e tenho.
    um beijo enorme para ti, Sara.
    um beijo enorme para a bela, doce e gentil Bárbara*

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  2. Obrigada por estarem desse lado. :)

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  3. Que lindo. Que real.
    Que venha o nosso lanche para que os nossos doces se encontrem. E para que nós vejamos as coisas tal e qual elas são.
    Beijinho.

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