sexta-feira, 28 de novembro de 2014

uma espécie de carta ao pai natal

O Instagram está, neste momento e desde há alguns dias, cheio de fotos de árvores de Natal. O espírito das festas este ano chegou mais cedo, já percebi. 
Cá em casa ainda não tive cabeça, nem tempo para pensar nisso. Confesso que não estou assim no pico do entusiasmo, anseio mais pelos encontros familiares que esta época me traz. Quero ir ver a iluminação à baixa, quero pegar nas miúdas, encher-nos de gorros, cachecóis e luvas e ir a concertos de Natal nas igrejas do Porto. Quero um presépio. É isso que eu quero. Dar-lhes um Natal memorável pelo que verdadeiramente representa. 
Mas quero presentes. Parece paradoxal ao que acabei de dizer, mas eu explico. Eu quero estas coisas. O Natal é [apenas] um pretexto, até porque já que faço anos em Janeiro, e nem em sonhos eu vou receber isto tudo em Dezembro, e a lista pode ser aproveitada. 

 A.do.ro. Há aqui.



No outro dia, andava pelo El Corte Inglês e deram-me uma amostra. Meti-a no bolso e andei todo o dia maravilhada com este cheiro. In love, quero cheirar assim. 







Dois bancos destes. Zara Home.






Ou esta




O meu está mesmo mesmo a acabar.


:)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

[to be continued]

Entretanto fui buscá-las cedo ao colégio e à avó. Mas em casa o caos continou. A Bárbara vinha tão transtornada, tão birrenta, tão descontrolada, que andamos de volta dela e a pequena Teresa coitadinha, lá nos ia puxando e íamos dando colinho e apagando o fogo ao mesmo tempo. 
Às tantas passei-me. Passei-me, comecei a ralhar sozinha, a queixar-me da minha sorte. O Daniel  compreendeu perfeitamente a minha necessidade de desabafar, levou-as para a sala, fechou a porta e eu falei, falei, falei sozinha durante 15 minutos, deitei a minha alma para fora. Depois veio ter comigo, mimou-me e disse "enquanto for só um de nós a passar-se, está tudo bem".

Quando finalmente as deitámos, senti um cansaço a invadir-me. Tão grande, tão grande. E vontade de chorar. E pensava, se ao menos esta roupa me desaparecesse da frente. Se ao menos não houvesse pó. Se ao menos eu não tivesse tanto sono. Deitei-me e quando a Teresinha deu sinal, às duas da manhã, fui de olhos fechados buscá-la para a minha cama. E dormi, dormi e dormi até de manhã. De manhã rimo-nos: resolvemos uma coisa de cada vez, neste momento temos que repor algum sono, temos que nos equilibrar. É que sinto-me uma maluquinha. A nadar, a dar aos pés, para não me afogar. Mas ao mesmo tempo, não abdicava desta vida. É assim esquizofrenizante, a maternidade. Já não me imagino sem as minhas duas macaquinhas, mas ao mesmo tempo suspiro por algum tempo para mim e para me cuidar.

Ao fim e ao cabo, no meio deste caos dos dias, são elas que nunca nos saem do pensamento. É para elas que vivemos. Mas não nos queremos esquecer de nós. Que somos adultos, que somos um casal. "Está na hora de aceitar que é assim", disse-me o Daniel. E talvez esteja mesmo. 

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

daqui a muitos e muitos anos, vamos rir-nos disto, tenho a certeza

Chegámos a casa com as miúdas, num só carro. O meu foi para a oficina. Gostava de ser americana e dizer "my car is in the shop", em inglês fica sempre tão bem. Comecei a preparar o jantar, o Daniel tratou das miúdas. Aqueci a sopa da Teresa. Ele deu. Vestiu-lhes o pijama depois de as lavar e foi apanhar roupa. Reparei que a ricota para o molho estava estragada e ele teve que sair para comprar, porque eu já não tinha nada que substituísse e o jantar estava quase pronto. A Bárbara ajudou-me a fazer o jantar. A Teresinha desligou o telefone de casa, espalhou os dvd's, os sapatos, os casacos, os brinquedos, os livros, as chaves e os carregadores. Despejou-me a bolsa, espalhou as palhinhas e tentou comer uma cebola com casca. O Daniel chegou e foi brincar com elas. Acabei de fazer o jantar, pus no forno a gratinar, pus a mesa e depois fomos jantar. A Bárbara começou a chorar. Não gostava daquele queijo (o mozarela), queria do outro queijo [o parmesão], não gostava de cogumelos, não gostava de tomate, não gostava de "côve" [era manjericão], não gostava de massa, pronto. Levou sermão e missa cantada e começou a comer. Enquanto isto, a Teresa chorava e choramingava e demos-lhe um pão para ir mordendo. Estava perdida de sono. Após o jantar, a Bárbara viu as músicas de dormir [há duas muito giras, depois de A Casa do Mickey Mouse, no Disney Junior], foi lavar os dentes e fazer xixi. Tentamos contar a história do Pedro e o Lobo algumas vezes, porque a Bárbara tinha frio, porque tinha fome, porque eu não estava a segurar bem no livro, porque eu não dei a entoação certa. À 4ª, depois de ameaçar que não haveria história, consegui. Apagámos a luz, já a Teresa dormia [sem chupeta], e a Bárbara também adormeceu de imediato. 

Preparámos mais umas coisas e fomos ver um filme, mas ao fim de 10 minutos já estávamos a cabecear. Dei o dream feed à Teresinha, pus a Bárbara a fazer xixi. Era meia noite. A Teresinha despertou. Passados 20 minutos, sossegou. 
Às cinco e dez da manhã acordou, queria conversa. Tentei adormecê-la em vão. Às seis mandei as teorias às urtigas, levei-a para o meu quarto, onde ela virou, rebolou, palrou até adormecer, com a cabeça na almofada do pai, ele todo encostadinho na beira da cama, ela na diagonal, com os pés no meu peito. Às seis e meia ouço baixinho "mamã, mamã!" Hmmm? "Quero fazer xixi!" Penso, boa, pediu! Levo-a à casa-de-banho e ela volta para o quarto. Volta para trás e diz "queres vir comigo para a minha cama? É muito boa!" Fui. Deitei-me e caramba, é mesmo boa. Disse-lho e ela respondeu "ainda bem, mamã". Adormecemos.

O Daniel acorda-me. "São oito e um quarto!" Levantei-me a correr e tomei um duche rápido. A Bárbara a dormir que nem uma pedra. Primeiro dia de colégio depois de 5 dias em casa. Tentei a bem, até que depois tive que a agarrar para a tirar da cama. Começou o choro aos berros. Vesti-a, ela sempre a berrar. De vez em quando parava de chorar para bocejar [dava-me tanta vontade de rir]. Consegui que se acalmasse, que lavasse os dentes, e que tomasse o pequeno-almoço. Vesti-me, agarrei no computador, nas chaves, na bata, nos casacos, no saco da Teresa. Penteei-a. A chupeta! Vestimos-lhes os casacos [a Teresa dá muita luta], vestimos os nossos casacos e abalámos. Ligámos para o colégio a avisar do atraso. No carro senti uma fome brutal, não tinha tomado o pequeno-almoço. Deixei o pai e a mais velha, abalei com a mais nova, deixei-a na minha mãe. Fui a casa, tomei leite e comi o meio pão que sobrou. Estendi uma máquina de roupa [tenho que encher menos a máquina], peguei no telemóvel que me tinha esquecido e desci. Quase que adormecia no elevador, juro. 

Abanquei num shopping a trabalhar, acho que aqui não adormeço. Escrevo este post. Já tomei um café, mas apetece-me outro. E talvez outro. Tenho saudades das miúdas. Eu e o pai nem demos um beijo de bom dia. Tenho tanto, tanto trabalho atrasado. Não faço ideia do que vai ser o jantar. Vai ser um longo dia. Vejo a Zara daqui e apetece-me entrar. Vejo as pessoas descontraídas e também queria sentir-me assim e não esta pilha de nervos. Esta dor de barriga. Oh God. 

Vai correr bem. I can do this. Ainda estão aí?

domingo, 23 de novembro de 2014

Minha filha Bárbara

Eram 5 da manhã quando ela chamou. Não estranhei porque ou uma ou outra, por um motivo ou por outro têm acordado a essa hora. Mas era para vomitar. Passei as 4 horas seguintes a correr para a casa de banho com ela, a segurar-lhe o cabelo, a pôr-lhe a mão na testa, a acalmá-la. E quando percebi que nem a água segurava na barriga fomos ao médico. Em princípio seria uma gastroenterite. Já havia alguma desidratação, por isso devíamos vigiar e se não houvesse melhoras, hospital. 

Não melhorou e à tarde levei-a à urgência pediátrica. Perdi a conta às vezes que parei pelo caminho, e comecei a ficar mesmo preocupada, já a acreditar que ela ia ficar a soro. Na sala de espera havia muita gente. Curioso. Era uma sexta à tarde e havia muitos miúdos de braço ao peito ou em cadeira de rodas, magoados nos pés, nas pernas. À noite vêem-se mais crianças febris ou com problemas respiratórios. Enfim. Não ficou em observação, mas a consulta foi bastante demorada, cuidada e já voltamos tarde para casa. Ela ainda com febre e dores de barriga, eu exausta, agastada com tanto que corri, tanto colo que dei, de tanto que tive que vê-la em sofrimento. 

Estou cada vez mais convencida de que uma boa noite de sono terá alguns poderes curativos, e a verdade é que depois de umas largas horas de sono, ela acordou bem disposta, a querer brincar, a falar alto. Fiquei aliviada. Não parecia nem de perto a Bárbara de há 12 horas atrás, de olhos fundos, de ar abatido e frágil. 

Deitou-se connosco na cama. A Teresinha já estava no nosso meio há um par de horas. Falamos do dia anterior, de como tinha sido duro. Ela encostou-se a mim e eu dei-lhe um beijo na cabeça. Então ela disse-me bem devagar, de voz firme e crescida, como quem fala muito a sério, "obrigada mãe, por teres ido comigo ao médico e ao hospital". Não aguentei e chorei. Não sei como semelhantes palavras saíram daquela boca, mas encheram-me de orgulho. Se há adultos que não o dizem, muito menos com aquela simplicidade. Fiquei desarmada, emocionada, felicíssima. Estamos a ir bem, é nestas alturas que mo mostras. És uma grande menina, minha querida filha Bárbara. E eu adoro ser tua mãe.



quarta-feira, 19 de novembro de 2014

fazer [mudar]

Quando a Teresinha nasceu, havia muita coisa para gerir: duas filhas, uma casa que nunca foi muito organizada, muita roupa, as minhas próprias emoções e a dificuldade em aceitar que só o tempo traria alguma calma e tranquilidade à nossa casa.

O que todos me diziam foi o que se tem verificado, as coisas melhoram. As rotinas estão instaladas, sabemos que há noites mal dormidas sempre que se atinge uma etapa nova, sempre que há um dente ou uma conquista significativa, como gatinhar. Penso que na teoria sabemos muitas coisas. Sabemos quantas horas a Bárbara precisa de dormir para andar tranquila e bem disposta. E a que horas temos que acordar para que de manhã não haja grandes dramas. Que é mais fácil se tudo for preparado no dia anterior, que devemos ir arrumando à medida que desarrumamos. Que não pode passar um dia sem fazermos uma máquina de roupa. Que meia hora a dar um jeito à casa é precioso para a desarrumação não se instalar. Que planear refeições e compras é poupar [tempo, dinheiro e chatices]. Que devíamos ter uns fins-de-semana mais tranquilos e caseiros, para nosso bem, das miúdas e da nossa casa. Tantas coisas. Não sou metódica nem organizada e convivo muito mal com esta minha inabilidade. É uma luta que travo há muito tempo e a vários níveis. E se sinto alguma culpa como mãe, é neste aspecto, porque esta falta de organização rouba-me tempo. De levar as miúdas mais cedo para casa, dar-lhes banho e jantar, brincar com elas, dar-lhes tempo para se ligarem, para estarem em casa. À Bárbara sinto que lhe estou sempre a cortar o barato. Como o tempo é pouco, interrompo-lhe as brincadeiras mais vezes do que gostaria, ou porque tem que ir jantar, ou vestir o pijama, ou lavar os dentes, ou dormir. É cruel. Há um mínimo. E este é apenas um dos danos colaterais.

Gostava de ser capaz de criar mais constância na nossa vida. Mas o meu perfeccionismo é quase incapacitante, comigo é tudo ou nada e ou levo tudo à frente ou deixo que o cansaço me vença, dia após dia, noite após noite. Passo a vida numa luta que é inglória, mas sei que tudo pode ser mais fácil. Se ao menos eu abraçasse a mudança. O que a vida me dá. E a mim própria, com tudo o que eu sou, posso ser e tenho para dar.