segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Estar grávida

Não tenho feito outra coisa senão queixar-me. Nem que seja calada, de mim para mim, mas muitas vezes verbalizo, tem que ser. 
Não durmo nada de jeito há meses, primeiro porque tinha insónias, agora continuo com insónias e não tenho posição. Não sei pôr as almofadas, perco-as durante a noite, fico nervosa porque quero mexer-me e não acordar o Daniel, mas quero mexer-me furiosamente, como os cães quando procuram posição para aninhar. Dão voltas e voltas e mais voltas até que ficam. E eu estou assim. 
Lesionei a virilha, ou o aductor, ou ambos, nem sei, sei que o estrago foi considerável. 
Doem-me as costas, na zona lombar e por vezes se me sento ainda demoro uns bons minutos para conseguir voltar a pôr-me de pé. 
Tenho azia, cada vez mais e os enjoos voltaram para me atormentar. Não consigo comer carne umas vezes, arroz outras.

Os pés e as mãos já se me incham e ontem tirei a aliança. Mas custa-me, falta-me qualquer coisa aqui no anelar esquerdo, no sítio onde está uma tira de pele mais clara.
E as caimbras.
E é a bexiga, que aqui a mocinha mais nova acha que é um trampolim fantástico. Nem falo da incontinência.

Sinto-me com mau feitio, mas ao mesmo tempo tranquila. Só não suporto programas de talentos com plateias aos gritos, ou as notícias, ou documentários sobre presidiários perigosos (sorry babe). 
E tenho fome de loba, mas fo-me-de-lo-ba. Mas depois começo a comer e fico logo cheia. Emociono-me com anúncios de televisão e oculto da cronologia do facebook todas as más notícias, sobretudo as que se referem a crianças pequenas. 
Estou arrependidíssima de ter optado por ser seguida apenas no público, e não fazer uma eco de 4 em 4 ou de 5 em 5 semanas, como na gravidez da Bárbara está a deixar-me um bocadinho desesperada, mas é segredo.

Não estou uma pessoa propriamente adorável. Mas no meio disto tudo, de tanta queixa e angústia, sinto-me feliz. Sinto-me com esperança, curiosa, atenta, até bonita. Talvez por finalmente abraçar, (ou aceitar nem sei) estas minhas dores. Saber que chateiam, que moem, que limitam, mas que não tenho que gostar delas, não tenho que achar que são por uma boa causa, que são, mas eu queria era passar bem. E por saber que há mulheres que passam por muito pior, muito muito pior e enfrentam tudo e enfrentariam mais ainda. Nem sempre ser forte é aguentar tudo calada, por vezes é mesmo dizer "já chega", "não quero", "dói". Isso não significa que se vão baixar os braços, mas sim aceitar que não se é invencível, nem perfeito. Admitir que se é humano. Isso sim, é uma grande força.

5 comentários :

  1. Admitir isso tudo é mais que meio caminho andado para te sentires melhor. E vai passar..Estou confiante que ainda vais melhorar :)

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  2. Eu também aguento sem estar calada :) queixo-me muito do cansaço e dos dias que quase sintovque vou enlouquecer, dos dias em que só me apetece dizer asneiras, mas sei que tenho tanta coisa boa. Descontrai e vai aproveitando da melhor forma que podes. Depois terás outras queixas :) beijinho

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  3. Oh linda....como eu te compreendo e não repreeendo nenhuma das tuas palavras...também me senti assim na minha gravidez...vomitei até aos 6 meses de gestação (era em hóteis, em shoppings, em casa de amigos e as vezes que tive de parar o carro para vomitar no meio da estrada?!...decadente, eu sei... e os enjoos perseguiram-me até ao final da gravidez, engordei 22 Kg, pelos 5 meses de gestação já não conseguia calçar umas meias (já para não falar das meias elásticas)...o meu marido encontrou-me várias vezes no wc a chorar de tão desesperada pelas noites mal dormidas, pelo mau-humor e por ter que pedir ajuda para me vestir...grávida também sofre...mas faz parte da condição de mulher...afinal somos ou não somos umas guerreias?! Beijocas e muita força e continua a não sofreres calada...

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  4. Olá!! Deita cá para fora que eu gosto de tudo o que escreves, porque é sempre feito com bom gosto. Acresce ainda o facto de te ajudar e de eu te ajudar com alguma distração que te proporciono enquanto lês o que escrevo. São todas essas coisas e muitas mais que nem imagino que fazem de ti uma guerreira, uma mulher de armas, uma querida. Uma mulher estupendamente moderna, atenta, cuidada, tranquila apesar das muitas frentes que tens que lutar contra. Beijinhos Sara

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  5. Olá!! Deita cá para fora que eu gosto de tudo o que escreves porque é sempre feito com bom gosto. Acresce ainda o facto de te ajudar e de eu te ajudar com alguma distração que te proporcione enquanto lês o que escrevo. São todas essas coisas e muitas mais que nem imagino que fazem de ti uma guerreira, uma mulher de armas, uma querida. Uma mulher estupendamente moderna, atenta, cuidada, tranquila apesar das muitas frentes que tens que lutar contra. Beijinhos Sara

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