quarta-feira, 31 de outubro de 2012


Quando ainda estava grávida, perguntava-me muitas vezes onde é que andava o meu instinto materno. Se ia adivinhar, se ia saber. Isso era uma comidela de cabeça, porque eu, ingenuamente, achava que era assim que a coisa funcionava. Basicamente, o bebé chorava e a mãe passava a possuir um qualquer mecanismo interno, tipo lâmpada a dizer "passa-se isto". E achava que não ia ser assim tão perspicaz. 
Felizmente acordei a tempo desta "fantasia". Sim, porque isto era um delírio de perfeição. E dei-me conta que havia uma aprendizagem a fazer. A Bárbara não ia saber mamar desde logo, nem eu saberia logo amamentar, até poderia acontecer, mas não aconteceu e tudo bem. Fomos conseguindo, as duas, que resultasse. E resultou.
Lembro-me do primeiro banho que lhe deram, no segundo dia de vida, ainda na maternidade. Aliás, eu não me lembro de nada! Eu estava tão cansada e ela berrava tanto, que eu só me lembro de a enfermeira pegar nela e mostrar-me como se fazia e dizer umas cem vezes "está bem, mãe?"
Adivinhar os choros era outra coisa que me assustava. Era sono, era fome, cólicas, frio, calor? Mas a certa altura foi mesmo altura de tirar o peso dos ombros. E foi bem melhor. A Bárbara chorava e eu ia fazendo coisas, até perceber o que ela precisava. E fui-me tornando muito boa nisso.
Até que dei por mim a percebê-la tão bem e tão rápido como ninguém. E isso não tem nada a ver com instinto materno que, btw, já me disseram que there's no such thing as instinto materno. Há sim, uma relação. Assim como eu sei que de manhã não me posso meter muito com o meu homem, também já sei quando é que a pequena está a fazer birra de sono, ou quando está a ficar doente.
Já por duas vezes, ainda bem antes de a B. ter febre, senti-lhe a temperatura alterada, a aumentar, daí a umas horas lá vinha febre em força. Desta última vez também notei qualquer coisa de diferente quando fomos a Serralves. A B. no início quis andar, mas a certa altura ia para a relva, sentava-se e deixava-se estar, muito quietinha. Achei que não era muito normal para quem não pára por natureza e só recentemente tinha a liberdade de ir onde quiser, pelo seu próprio pé. E de facto, mais tarde, adoeceu.
Suponho que seja isto, o que chamam de instinto, e que afinal é aprendizagem. Quanto a mim, bem mais interessante, porque é fruto de meses de conhecimento, de estar atenta, de amar os nossos filhos e os conhecermos como ninguém. E isso dá-me um orgulho do caraças.

2 comentários :

  1. Eu também não acredito em instinto maternal, acredito em conhecimento... Por alguma coisa eu demorei a perceber o meu filho, a conhecê-lo e a saber o que ele precisa... Se fosse instinto tinha sido um clic na hora do parto e não foi, demorou muito tempo!

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