terça-feira, 28 de abril de 2015

[pedir desculpa]

Dormi 3 horas. Ando há umas noites com insónias. Há seis, precisamente, que foi quando comecei a tomar antibiótico por causa da rinite. 
Dormir mal faz-me ter frio... e mais fome. Mas o pior, o que menos suporto é o que faz ao meu feitio, à minha capacidade de relativizar e de me acalmar. Então gritei com a Bárbara de manhã. Atrasados como de costume para sair de casa queria vestir-lhe a bata mas ela não colaborava. Queria dizer-me alguma coisa. Num dia normal eu diria: "podes falar e vestir a bata ao mesmo tempo", ou "já falamos". Sei lá. Mas mandei um berro, gritei, já nem sei o que disse, passei-me. Ela começou a chorar, assustada. Vesti-lhe a bata, o casaco, pegamos na mochila, e saímos. Entrou com ar grave no elevador, já sem chorar, seguiu-me para o carro sem dizer o habitual "eu é que vou à frente!", esperou muito quieta enquanto eu abria o carro e colocava tudo na mala. Senti que tinha dado cabo da alegria caótica que há nas nossas manhãs, caí em mim. Quando a sentei na cadeira disse-lhe "desculpa querida, a mamã hoje está tão cansada que exagerou. Não devia ter gritado contigo. Gosto muito muito de ti." Ela sorriu e disse "eu também gosto muito muito de ti, mamã, desculpa também." Respondi-lhe "está tudo bem agora". 

Fui pelo caminho meio atordoada. Não quero ser aquela mãe histérica e desorganizadora. Mas momentos assim acontecem. Poucos felizmente, mas acontecem. Mas também não tenho a pretensão de ser a mãe perfeita. Já não. Não senti culpa. Só lamentei que o cansaço tivesse levado a melhor, mas sei que não sou assim. Não a humilhei, descontrolei-me, só isso. E só isso pode ser muito assustador. As pessoas costumam dizer "as desculpas evitam-se". Mas eu acredito que as desculpas são para se pedir, com toda a sinceridade e humildade, as vezes que forem precisas. Mesmo que seja à nossa filha pequenina, especialmente a ela. A mãe errou, e não há mal nenhum que ela saiba que a mãe às vezes também falha, que as situações se resolvem, que as falhas se perdoam.

7 comentários :

  1. E acho que tiveste uma atitude muito bonita e correcta e a prova disso foi a resposta dela... :)

    (digo eu que ainda não sou mãe e que não percebo muito disto)

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  2. Eu também peço desculpa, sim. mas ao ler o teu relato, cada vez mais me apercebo o quão mãe histérica e descontrolada que sou

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    1. Ana, sabes uma coisa? Muitos anos de psicoterapia. Muitos, nem te digo quantos. Valem a pena, porque me vejo a ser boa mãe, mas não sou infalível, muito menos perfeita. Mas tive que ir tratar de mim para poder agir assim. Senão era um regabofe.

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  3. Se tratamos os nossos filhos com o respeito que as pessoas merecem, então pedir desculpa é uma coisa normal. Peço muitas vezes, apesar de saber que poderia ter evitado umas quantas e, regra geral, recebo um pedido de desculpa de volta. Temos um milhão de coisas para ensinar aos nossos filhos e, uma delas, é que os pais são humanos e falham. Ensinando isto vamos poupar-lhes umas quantas desilusões.

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    1. Sem dúvida. Mas o mais engraçado é que, ao mesmo tempo que ensino isso às miúdas, aprendo com elas a ser mais humilde e verdadeira. Nunca vi a Bárbara guardar ressentimento de nada, e isso é uma grande lição.

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  4. Gosto muito de ler estas tuas reflexões. Revejo-me em muitas coisas que escreves e emociono-me quase sempre.

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  5. Linda aqui em casa são tantas as vezes assim...Mas já sem culpas...Também ando cansada e há dias em que a mamã tem tolerância zero! Ainda hoje o M. caiu ao sair do carro e eu gritei com ele antes de sequer lhe perguntar se ele se tinha magoado...Enfim...Dias "piores" mas também muitos dias "melhores"!

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