Se há coisa que me deixa com comichão é estar na fila do supermercado com a minha filha ao colo, para comprar um pacote de queijo ralado e quatro iogurtes, e ter uma chata atrás de mim a moer-me a paciência para eu ter prioridade "Mimimimimimi, porque tem uma bebé ao colo", "mimimimimimimi, porque as pessoas não enxergam", "mimimimimimimi, porque já não há educação". E se eu explico que estou bem, que deixe estar, olham-me como se fosse a maior bocó à face da terra.
Ok, a caixa prioritária não estava aberta. Mas eu não levo a B. ao colo para ter prioridade. Eu levo-a porque gosto que ela vá comigo, porque quero, porque não vou tirar um carrinho com mini cadeira só para comprar duas coisas. Porque estou confortável, as minhas costas ainda aguentam e porque consigo fazer tudo só com uma mão.
Era a mesma coisa quando eu estava grávida. Muito grávida, diga-se. Entrava no metro e ouvia logo um "deixem sentar esta senhora grávida!", de alguém que ia de pé, obviamente. Claro que se eu andasse só duas paragens, não aceitava o lugar. Dava-me mais trabalho sentar e levantar do que ficar de pé, bem segura.
Mas não pensem que não sei fazer uso dos meus direitos. Sei. E quando precisei, usufruí. Quando estava de quase 9 meses e já não me aguentava das pernas, agradeci a prioridade no supermercado. Agradeci o lugar no metro, agradeci que me abrissem portas, que me dessem a vez.
Quando a minha filha era bebé e tive que tratar de burocracias, agradeci a fila prioritária, para a sujeitar o mínimo possível a espaços com muita gente.
E acho que cada pessoa sabe o que aguenta. Uma mulher grávida, de 10, 11, 12 semanas, ainda com pouca ou nenhuma barriga pede prioridade e a maior parte das pessoas pensa que é esquisitice e até chegam a duvidar. Mas só ela sabe se tem dores, ou se tem algum factor de risco.
Disto tudo o que é que eu tiro? Que atitudes como as da mulher do super, nada têm de altruísta. São formas de expelir raivinhas. Acho estas pessoas muito irritantes. Estão ali simplesmente a querer prevaricar, tamanha é a agressividade com que exigem que me deixem passar à frente. Teria ela tanto empenho, se estivesse à minha frente na fila? Teriam as pessoas do metro a mesma atitude se fossem sentadas? Não sei. Que me lembre, nunca aconteceu.