- Vamos secar-te com esta toalha quentinha.
- Está bem mamã.
- Que bom, que maravilha!
- Assim é que é vida…
- Ahahaahah!
- Mamã, vamos dizer outra vez para depois nos rirmos?
- Sim, diz lá.
- Isto é que é vida!
- Ahahahahah!
- Diz tu agora mamã.
- Ah, isto é que é vida!
- Ahahahaha! Oh, Sara…!
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
[o melhor do meu dia] esta reflexão
Passamos o tempo a mostrar-lhes que há limites. A pôr-lhes um travão. Para que no futuro lidem bem com um não, com a frustração, com as agruras da vida. Para que voltem a erguer-se depois de uma queda. Para que sejam pessoas com valores, com respeito por si próprias e pelos outros. Para que sejam felizes.
De repente há demasiado tempo que não dormimos mais do que quatro horas por noite, que estamos maltratados de tanto trabalho e correrias, de tantas tentativas de resolver birras a bem apesar de demorar mais tempo, de tratar delas quando estão doentes e dormem mal, comem mal, toleram mal, de passar mais tempo a apagar fogos do que realmente a produzir. De repente descontrolamo-nos, porque já não dá mais, já não conseguimos mais, já não há poder de encaixe. Depois, forçosamente vamos dar uma volta e pensar, um time out, como aqueles que lhe damos para ela se organizar e acalmar. Percebemos que fizemos também uma birra. Nós, que passamos o tempo a mostrar-lhes que há limites, também deles precisamos. Se calhar temos que escolher melhor as nossas lutas e não comprar todas as guerras. É que é pena que muitas vezes o limite seja o fundo, o drama, o filme de terror, em vez de sermos capazes de o definirmos para nós de forma sã e nos sabermos proteger a tempo, para nosso bem e para bem de todos.
sábado, 6 de dezembro de 2014
[teresa] dez meses
Dez meses, Teresa. Há um ano, estavas na minha barriga e foi só por esta altura que comecei a ter uma gravidez mais tranquila. Uma notícia muito boa deu-nos o feliz Natal que pensávamos que não íamos ter. E assim, com essa notícia, pudemos receber-te melhor, mais disponíveis, mais optimistas e mais descansados.
Pensei tanto como seria ter-te a ti e à tua irmã, tive muito medo de não ser capaz. Mas fui e sou. Os olhares que vocês as duas trocam, a rapidez com que gatinhas até ao pé da Bárbara e ficas ali a procurar a mão dela, a vibrar com ela, é mais que maravilhoso e é a confirmação de que sim, eu consigo.
És uma menina feliz, valente. A tua avó chama-te guerreira, porque tu gostas de explorar e conquistar. Na semana passada conseguiste subir sozinha um degrau, a gatinhar. Depois sentaste-te lá, como que a marcar território.
Ainda não tenho nenhuma fotografia tua numa moldura, e muito poucas tiradas com a máquina. Mas acredita quando te digo, o lugar que ocupas nas nossas vidas é por demais essencial. Fazes esta família muito rica, e esta mãe muito feliz.
Amo-te muito minha Teresa. Amo-te muito para sempre.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
Terrible three
Esta minha filha. Se todos os dias nos diz coisas que nos põem em espanto, se todos os dias nos presenteia com sorrisos lindos de morrer, também todos os dias nos põe a pão de pedir. É preciso mesmo muita paciência, muito jogo de cintura para lidar com todos os dramas de uma menina de 3 anos. Muito mais do que eu pensava. Esta minha filha. É brava. Terna, corajosa, meiga, teimosa, sensível. Mas tão brava. Quem inventou os terrible two, despachou as crianças para algum lado antes de chegar aos three. Acreditem.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
uma espécie de carta ao pai natal
O Instagram está, neste momento e desde há alguns dias, cheio de fotos de árvores de Natal. O espírito das festas este ano chegou mais cedo, já percebi.
Cá em casa ainda não tive cabeça, nem tempo para pensar nisso. Confesso que não estou assim no pico do entusiasmo, anseio mais pelos encontros familiares que esta época me traz. Quero ir ver a iluminação à baixa, quero pegar nas miúdas, encher-nos de gorros, cachecóis e luvas e ir a concertos de Natal nas igrejas do Porto. Quero um presépio. É isso que eu quero. Dar-lhes um Natal memorável pelo que verdadeiramente representa.
Mas quero presentes. Parece paradoxal ao que acabei de dizer, mas eu explico. Eu quero estas coisas. O Natal é [apenas] um pretexto, até porque já que faço anos em Janeiro, e nem em sonhos eu vou receber isto tudo em Dezembro, e a lista pode ser aproveitada.
A.do.ro. Há aqui.
No outro dia, andava pelo El Corte Inglês e deram-me uma amostra. Meti-a no bolso e andei todo o dia maravilhada com este cheiro. In love, quero cheirar assim.
Esta.
Ou esta.
O meu está mesmo mesmo a acabar.
:)
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
[to be continued]
Entretanto fui buscá-las cedo ao colégio e à avó. Mas em casa o caos continou. A Bárbara vinha tão transtornada, tão birrenta, tão descontrolada, que andamos de volta dela e a pequena Teresa coitadinha, lá nos ia puxando e íamos dando colinho e apagando o fogo ao mesmo tempo.
Às tantas passei-me. Passei-me, comecei a ralhar sozinha, a queixar-me da minha sorte. O Daniel compreendeu perfeitamente a minha necessidade de desabafar, levou-as para a sala, fechou a porta e eu falei, falei, falei sozinha durante 15 minutos, deitei a minha alma para fora. Depois veio ter comigo, mimou-me e disse "enquanto for só um de nós a passar-se, está tudo bem".
Quando finalmente as deitámos, senti um cansaço a invadir-me. Tão grande, tão grande. E vontade de chorar. E pensava, se ao menos esta roupa me desaparecesse da frente. Se ao menos não houvesse pó. Se ao menos eu não tivesse tanto sono. Deitei-me e quando a Teresinha deu sinal, às duas da manhã, fui de olhos fechados buscá-la para a minha cama. E dormi, dormi e dormi até de manhã. De manhã rimo-nos: resolvemos uma coisa de cada vez, neste momento temos que repor algum sono, temos que nos equilibrar. É que sinto-me uma maluquinha. A nadar, a dar aos pés, para não me afogar. Mas ao mesmo tempo, não abdicava desta vida. É assim esquizofrenizante, a maternidade. Já não me imagino sem as minhas duas macaquinhas, mas ao mesmo tempo suspiro por algum tempo para mim e para me cuidar.
Ao fim e ao cabo, no meio deste caos dos dias, são elas que nunca nos saem do pensamento. É para elas que vivemos. Mas não nos queremos esquecer de nós. Que somos adultos, que somos um casal. "Está na hora de aceitar que é assim", disse-me o Daniel. E talvez esteja mesmo.
Quando finalmente as deitámos, senti um cansaço a invadir-me. Tão grande, tão grande. E vontade de chorar. E pensava, se ao menos esta roupa me desaparecesse da frente. Se ao menos não houvesse pó. Se ao menos eu não tivesse tanto sono. Deitei-me e quando a Teresinha deu sinal, às duas da manhã, fui de olhos fechados buscá-la para a minha cama. E dormi, dormi e dormi até de manhã. De manhã rimo-nos: resolvemos uma coisa de cada vez, neste momento temos que repor algum sono, temos que nos equilibrar. É que sinto-me uma maluquinha. A nadar, a dar aos pés, para não me afogar. Mas ao mesmo tempo, não abdicava desta vida. É assim esquizofrenizante, a maternidade. Já não me imagino sem as minhas duas macaquinhas, mas ao mesmo tempo suspiro por algum tempo para mim e para me cuidar.
Ao fim e ao cabo, no meio deste caos dos dias, são elas que nunca nos saem do pensamento. É para elas que vivemos. Mas não nos queremos esquecer de nós. Que somos adultos, que somos um casal. "Está na hora de aceitar que é assim", disse-me o Daniel. E talvez esteja mesmo.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
daqui a muitos e muitos anos, vamos rir-nos disto, tenho a certeza
Chegámos a casa com as miúdas, num só carro. O meu foi para a oficina. Gostava de ser americana e dizer "my car is in the shop", em inglês fica sempre tão bem. Comecei a preparar o jantar, o Daniel tratou das miúdas. Aqueci a sopa da Teresa. Ele deu. Vestiu-lhes o pijama depois de as lavar e foi apanhar roupa. Reparei que a ricota para o molho estava estragada e ele teve que sair para comprar, porque eu já não tinha nada que substituísse e o jantar estava quase pronto. A Bárbara ajudou-me a fazer o jantar. A Teresinha desligou o telefone de casa, espalhou os dvd's, os sapatos, os casacos, os brinquedos, os livros, as chaves e os carregadores. Despejou-me a bolsa, espalhou as palhinhas e tentou comer uma cebola com casca. O Daniel chegou e foi brincar com elas. Acabei de fazer o jantar, pus no forno a gratinar, pus a mesa e depois fomos jantar. A Bárbara começou a chorar. Não gostava daquele queijo (o mozarela), queria do outro queijo [o parmesão], não gostava de cogumelos, não gostava de tomate, não gostava de "côve" [era manjericão], não gostava de massa, pronto. Levou sermão e missa cantada e começou a comer. Enquanto isto, a Teresa chorava e choramingava e demos-lhe um pão para ir mordendo. Estava perdida de sono. Após o jantar, a Bárbara viu as músicas de dormir [há duas muito giras, depois de A Casa do Mickey Mouse, no Disney Junior], foi lavar os dentes e fazer xixi. Tentamos contar a história do Pedro e o Lobo algumas vezes, porque a Bárbara tinha frio, porque tinha fome, porque eu não estava a segurar bem no livro, porque eu não dei a entoação certa. À 4ª, depois de ameaçar que não haveria história, consegui. Apagámos a luz, já a Teresa dormia [sem chupeta], e a Bárbara também adormeceu de imediato.
Preparámos mais umas coisas e fomos ver um filme, mas ao fim de 10 minutos já estávamos a cabecear. Dei o dream feed à Teresinha, pus a Bárbara a fazer xixi. Era meia noite. A Teresinha despertou. Passados 20 minutos, sossegou.
Às cinco e dez da manhã acordou, queria conversa. Tentei adormecê-la em vão. Às seis mandei as teorias às urtigas, levei-a para o meu quarto, onde ela virou, rebolou, palrou até adormecer, com a cabeça na almofada do pai, ele todo encostadinho na beira da cama, ela na diagonal, com os pés no meu peito. Às seis e meia ouço baixinho "mamã, mamã!" Hmmm? "Quero fazer xixi!" Penso, boa, pediu! Levo-a à casa-de-banho e ela volta para o quarto. Volta para trás e diz "queres vir comigo para a minha cama? É muito boa!" Fui. Deitei-me e caramba, é mesmo boa. Disse-lho e ela respondeu "ainda bem, mamã". Adormecemos.
O Daniel acorda-me. "São oito e um quarto!" Levantei-me a correr e tomei um duche rápido. A Bárbara a dormir que nem uma pedra. Primeiro dia de colégio depois de 5 dias em casa. Tentei a bem, até que depois tive que a agarrar para a tirar da cama. Começou o choro aos berros. Vesti-a, ela sempre a berrar. De vez em quando parava de chorar para bocejar [dava-me tanta vontade de rir]. Consegui que se acalmasse, que lavasse os dentes, e que tomasse o pequeno-almoço. Vesti-me, agarrei no computador, nas chaves, na bata, nos casacos, no saco da Teresa. Penteei-a. A chupeta! Vestimos-lhes os casacos [a Teresa dá muita luta], vestimos os nossos casacos e abalámos. Ligámos para o colégio a avisar do atraso. No carro senti uma fome brutal, não tinha tomado o pequeno-almoço. Deixei o pai e a mais velha, abalei com a mais nova, deixei-a na minha mãe. Fui a casa, tomei leite e comi o meio pão que sobrou. Estendi uma máquina de roupa [tenho que encher menos a máquina], peguei no telemóvel que me tinha esquecido e desci. Quase que adormecia no elevador, juro.
Abanquei num shopping a trabalhar, acho que aqui não adormeço. Escrevo este post. Já tomei um café, mas apetece-me outro. E talvez outro. Tenho saudades das miúdas. Eu e o pai nem demos um beijo de bom dia. Tenho tanto, tanto trabalho atrasado. Não faço ideia do que vai ser o jantar. Vai ser um longo dia. Vejo a Zara daqui e apetece-me entrar. Vejo as pessoas descontraídas e também queria sentir-me assim e não esta pilha de nervos. Esta dor de barriga. Oh God.
Vai correr bem. I can do this. Ainda estão aí?
domingo, 23 de novembro de 2014
Minha filha Bárbara
Eram 5 da manhã quando ela chamou. Não estranhei porque ou uma ou outra, por um motivo ou por outro têm acordado a essa hora. Mas era para vomitar. Passei as 4 horas seguintes a correr para a casa de banho com ela, a segurar-lhe o cabelo, a pôr-lhe a mão na testa, a acalmá-la. E quando percebi que nem a água segurava na barriga fomos ao médico. Em princípio seria uma gastroenterite. Já havia alguma desidratação, por isso devíamos vigiar e se não houvesse melhoras, hospital.
Não melhorou e à tarde levei-a à urgência pediátrica. Perdi a conta às vezes que parei pelo caminho, e comecei a ficar mesmo preocupada, já a acreditar que ela ia ficar a soro. Na sala de espera havia muita gente. Curioso. Era uma sexta à tarde e havia muitos miúdos de braço ao peito ou em cadeira de rodas, magoados nos pés, nas pernas. À noite vêem-se mais crianças febris ou com problemas respiratórios. Enfim. Não ficou em observação, mas a consulta foi bastante demorada, cuidada e já voltamos tarde para casa. Ela ainda com febre e dores de barriga, eu exausta, agastada com tanto que corri, tanto colo que dei, de tanto que tive que vê-la em sofrimento.
Estou cada vez mais convencida de que uma boa noite de sono terá alguns poderes curativos, e a verdade é que depois de umas largas horas de sono, ela acordou bem disposta, a querer brincar, a falar alto. Fiquei aliviada. Não parecia nem de perto a Bárbara de há 12 horas atrás, de olhos fundos, de ar abatido e frágil.
Deitou-se connosco na cama. A Teresinha já estava no nosso meio há um par de horas. Falamos do dia anterior, de como tinha sido duro. Ela encostou-se a mim e eu dei-lhe um beijo na cabeça. Então ela disse-me bem devagar, de voz firme e crescida, como quem fala muito a sério, "obrigada mãe, por teres ido comigo ao médico e ao hospital". Não aguentei e chorei. Não sei como semelhantes palavras saíram daquela boca, mas encheram-me de orgulho. Se há adultos que não o dizem, muito menos com aquela simplicidade. Fiquei desarmada, emocionada, felicíssima. Estamos a ir bem, é nestas alturas que mo mostras. És uma grande menina, minha querida filha Bárbara. E eu adoro ser tua mãe.
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
fazer [mudar]
Quando a Teresinha nasceu, havia muita coisa para gerir: duas filhas, uma casa que nunca foi muito organizada, muita roupa, as minhas próprias emoções e a dificuldade em aceitar que só o tempo traria alguma calma e tranquilidade à nossa casa.
O que todos me diziam foi o que se tem verificado, as coisas melhoram. As rotinas estão instaladas, sabemos que há noites mal dormidas sempre que se atinge uma etapa nova, sempre que há um dente ou uma conquista significativa, como gatinhar. Penso que na teoria sabemos muitas coisas. Sabemos quantas horas a Bárbara precisa de dormir para andar tranquila e bem disposta. E a que horas temos que acordar para que de manhã não haja grandes dramas. Que é mais fácil se tudo for preparado no dia anterior, que devemos ir arrumando à medida que desarrumamos. Que não pode passar um dia sem fazermos uma máquina de roupa. Que meia hora a dar um jeito à casa é precioso para a desarrumação não se instalar. Que planear refeições e compras é poupar [tempo, dinheiro e chatices]. Que devíamos ter uns fins-de-semana mais tranquilos e caseiros, para nosso bem, das miúdas e da nossa casa. Tantas coisas. Não sou metódica nem organizada e convivo muito mal com esta minha inabilidade. É uma luta que travo há muito tempo e a vários níveis. E se sinto alguma culpa como mãe, é neste aspecto, porque esta falta de organização rouba-me tempo. De levar as miúdas mais cedo para casa, dar-lhes banho e jantar, brincar com elas, dar-lhes tempo para se ligarem, para estarem em casa. À Bárbara sinto que lhe estou sempre a cortar o barato. Como o tempo é pouco, interrompo-lhe as brincadeiras mais vezes do que gostaria, ou porque tem que ir jantar, ou vestir o pijama, ou lavar os dentes, ou dormir. É cruel. Há um mínimo. E este é apenas um dos danos colaterais.
Gostava de ser capaz de criar mais constância na nossa vida. Mas o meu perfeccionismo é quase incapacitante, comigo é tudo ou nada e ou levo tudo à frente ou deixo que o cansaço me vença, dia após dia, noite após noite. Passo a vida numa luta que é inglória, mas sei que tudo pode ser mais fácil. Se ao menos eu abraçasse a mudança. O que a vida me dá. E a mim própria, com tudo o que eu sou, posso ser e tenho para dar.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
[segunda-feira]
Assim têm sido as minhas segundas-feiras. Começa a haver aqui um padrão. A começar mais tarde, mais apressada, nem sempre com o aspecto que quero ter. Adoraria começar a semana com um cabelo impecável, a pele e o olhar descansado, uma roupa bem escolhida. Mas estou tão ao contrário. Cabelo escorrido, com olheiras, sem maquilhagem. Vesti a t-shirt mais macia que encontrei e pus um lenço ao pescoço, para parecer menos desleixada. Faz-me falta o sono, que ficou em défice porque andei a levantar-me de hora a hora, ora por causa de uma filha, ora por causa de outra. Há noites assim. O que me custa, hoje em particular, é ter que ignorar que os olhos pesam, que a cabeça dói, ter que trabalhar a todo o vapor, a riscar itens da lista. Esquecer tudo, e por umas horas pensar só em linhas, planos, cortes, cotas, legendas e impressões.
Especialmente em dias como este tem ajudado planear a semana, organizar o calendário e fazer listas de prioridades. Mas isso por um lado também me desassossega. Quando é que vou ter mais tempo, como vou encaixar tantas coisas? E quando é que este trabalho vai compensar? Tenho pensado muito no meu futuro, sobretudo no profissional. Mas hoje, esta semana, não terei tempo para me questionar.
E hoje, só por hoje, vou buscar o almoço e comer aqui, sentada à secretária. Faltam-me fotos delas, penso. A Teresinha começou a gatinhar esta semana e a Bárbara está a entrar na idade dos porquês, o Daniel está a trabalhar em pleno. Penso muito neles quando estou aqui e tenho muitas saudades. Mas prefiro assim, e os reencontros ao fim do dia são muito bons, mesmo que apressados e mergulhados nas rotinas, mesmo que depois nem me demore 5 minutos no sofá antes de me deitar, mesmo que só falemos um pouco, alguns minutos antes de apagar a luz. Gosto desta nossa vida, mesmo que ainda a sinta tosca, mesmo que ainda me faltem coisas, mas são essas coisas que me fazem lutar e sonhar. O importante eu já tenho e isso eu já agarrei e já deixei que se instalasse.
As segundas-feiras nem sempre começam bem e hoje de certeza não é um dia em que me sinto poderosa. Mas estou grata por elas e quero muitas, ainda que sejam arrastadas e difíceis. São sempre recomeços e novas oportunidades e enquanto as houver, está tudo bem.
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
A casa do Oscar
Ando a ver este documentário e lembrei-me disto. É do Chico [Buarque].
"A casa do Oscar era o sonho da família. Havia um terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar.
Mais tarde, em um aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.
Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e saí batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar!
Pois bem, internaram-me em um ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo.
Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.
Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar".
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
"Pessoas sem filhos vs Pessoas com filhos"
Encontrei este link no facebook e partilhei com a seguinte frase: "Detesto admitir, mas é quase tudo verdade. Não tudo, mas quase tudo". Passado algum tempo, havia nos comentários algumas vozes discordantes. Hoje em dia abundam este tipo de artigos, e às vezes até dá que pensar.
Antes de mais, com a minha frase eu queria dizer que algumas daquelas coisas já nos aconteceram numa dada altura. Não em simultâneo, não sempre.
Este texto em forma de lista quase sugere que não ter filhos é que é, é ter liberdade para escolher, para fazer, para ir. E depois as pessoas com filhos, coitadas, com vidas patéticas, sujinhas e limitadas. A vida com filhos não é assim, é uma visão redutora. Mas os aspectos referidos no texto acontecem, ah sim.
Eu por exemplo, temo a sexta-feira. A semana de trabalho do Daniel tem seis dias, ao sábado ele sai para trabalhar, eu fico sozinha com as duas pequenas, com o almoço para tratar e sestas para gerir. E é quando me defronto com a desarrumação que vai pela minha casa, pelo monte de roupa até ao tecto, pelas tarefas que se acumulam. Para não falar de que não damos um jantar para amigos há meses.
No outro dia estava tão exausta que só queria cinco minutos de silêncio. E juro que pensei ir um bocadinho para o escritório, para o conseguir. Entre outros.
Às vezes é mesmo muito duro, caótico e desesperante. Mas os adultos somos nós e cabe-nos gerir a dinâmica familiar, criá-la de forma saudável. Nenhuma criança se vai sentir segura com pais que não têm amor próprio. E pais com amor próprio investem nas rotinas, na estabilidade, na coerência. E com isso ganham tempo, ganham espaço e ganham respeito. E nas rotinas familiares tem que haver espaço para, por vezes, as coisas descambarem.
Eu gosto muito de ser mãe, fui mãe quando me senti preparada. Não preparada para as noites interrompidas, para as refeições atribuladas, para as birras, para as fases, ninguém está verdadeiramente preparado para isso. Digo preparada para a entrega, para uma mudança de vida.
Perdem-se umas coisas, ganham-se outras, ajustam-se outras. O que interessa isso? Nenhum pai ou mãe saudável vai olhar para os filhos e pensar "foste a pior coisa que me aconteceu". Ter um filho é maravilhoso, e este adjectivo já inclui tudo o que tem de terrível e assustador. E o terrível não é ter uma nódoa de vomitado na roupa, nem poder ir ao cinema ou ao restaurante sempre que apetece. Terrível é querer ser um bom pai e sentirmo-nos a falhar, sentirmo-nos a sucumbir ao cansaço, sentir que não temos o tempo todo que queremos. Assustadora é a preocupação que nos acompanha sempre, pelo bem estar dos nossos filhos. São os nossos filhos. A dar os primeiros passos, a dizer “bola” pela primeira vez. Cada dia vão dependendo menos de nós e tudo isso é simplesmente maravilhoso, mas logo a seguir, um bocadinho amargo.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
[o melhor do meu dia]
Às 7 acordou a Teresinha. Palrou, palrou e fui buscá-la, mudei-lhe a fralda e preparei o leite. O pai deu-lhe o biberão e eu deitei-me mais 5 minutos. Às 7.15 acordou a Bárbara. Ouvi-lhe os passitos rápidos e parou, encostou-se à ombreira da porta a olhar, só com um olho aberto, o cabelo desgrenhado, o livro da Carochinha debaixo do braço. Chamei-a, deitou-se ao meu lado e assim ficamos os 4 na minha cama, nós nas pontas e elas no meio, num namoro pegado até serem mesmo horas de levantar.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
[segunda-feira]
Comecei o dia meia murcha e a queixar-me disso no facebook. Blame it on mondays. Então alguém partilhou comigo uma mensagem que dizia "Amanhã de manhã, a primeira coisa que vais fazer é escrever ou repetir esta frase: no que depender de mim, vou agarrar a segunda-feira com boa disposição e ânimo". E de facto, encontrar em mim o impulso e a força para enfrentar um dia, que por acaso é o primeiro da semana não é fácil, não foi fácil, mas foi possível e fez toda a diferença. Eu não entendo de karmas, de mantras nem de chakras, eu mal me entendo a mim própria. Mas hoje relembrei uma coisa que anda sempre muito esquecida: se eu quero, eu consigo.
[Obrigada, C. por aquelas palavras.]
sábado, 11 de outubro de 2014
[bárbara be good]
Quando a Bárbara começou a fazer as primeiras birras fiquei muito aflita. Não sabia lidar com aquele estado de descontrolo. A primeira vez que ela se atirou para o chão aos berros pensei "onde está a minha filha?" e fiquei a olhar, incrédula, mas parte de mim queria fugir para bem longe. Depois comecei a fazer tentativas, lia umas coisas, punha em prática, ia pensando, e fomos traçando a nossa própria estratégia.
Mas às vezes, em dias de exaustão, perco completamente a paciência e sai um berro ou uma palmada. Quase sempre corrijo logo a seguir, sem mostrar que estou tremendamente arrependida, sem que o sentimento de culpa me passe pela voz ou pelo olhar. Uma vez alguém disse que uma mãe nunca pede desculpa, mas eu tenho as minhas dúvidas. As mães também erram, as mães também choram. As mães falham. E pedir desculpa quando se erra, ou dizer "a mãe exagerou, está cansada e não queria gritar" é uma boa forma de ensinar a humildade.
Com as birras da Bárbara aprendi muito. Primeiro, aprendi que as birras são coisas dela, não são dirigidas a mim. Como tal, aprendi a acolher e a conter toda aquela fúria, a acalmá-la e a ajudá-la a perceber o que sente. Segundo, aprendi que as crianças são para respeitar e levar muito a sério. E que desde cedo podem fazer escolhas e que ao escolher se sentem responsáveis e que controlam um bocadinho aquilo que as rodeia. Terceiro, aprendi que o caminho que parece mais lento e inglório é, na verdade, o mais directo. Vale a pena ter alguma tranquilidade e não mandar logo um berro. Mas não se nota logo. Com as birras da Bárbara aprendi a ler-me a mim própria e a ganhar confiança no meu papel de mãe. Fora os dias em que estou exausta, não tenho que me controlar para não lhe dar uma palmada no rabo, a voz sai-me naturalmente calma e firme, sinto-me segura. Eu sou a adulta e sinto que assim ela confia muito mais em mim e se confia respeita, sente-se amada e protegida. Zango-me, sim. Fico danada com ela, sim. Mas nunca lhe viro as costas, nunca deixo de lhe falar, nunca a abandono quando ela mais precisa, e é nestas alturas que efectivamente mais precisa.
Um dia, depois de a ter repreendido, acalmou-se e perguntou-me "e assim, mamã, já gostas mais de mim"? Respondi-lhe "às vezes não gosto do que tu fazes, mas gosto sempre de ti, sempre". É a mais pura das verdades, e eu quero que ela perceba que o que está em causa não é ela, mas sim o que ela faz. A minha filha mais velha é uma boa menina. Desobedecer não faz dela uma pessoa má. Bater nos pais é inaceitável, é horrível, mas não faz dela uma pessoa feia. E em fases de calmaria, quando acata o que lhe dizemos, quando responde ao que pedimos, quando conversa, quando pergunta, vêem-se muito bem os frutos da educação que lhe damos.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
Acho que esta música diz-nos a todos alguma coisa
eu sei
que a vida tem pressa
que tudo aconteça
sem que a gente peça
eu sei
eu sei
que o tempo não pára
tempo é coisa rara
e a gente só repara
quando ele já passou
não sei se andei depressa demais
mas sei que algum sorriso eu perdi
vou pedir ao tempo
que me dê mais tempo
para olhar para ti
de agora em diante
não serei distante
eu vou estar aqui
cantei
cantei a saudade
da minha cidade
e até com vaidade
cantei
andei
pelo mundo fora
e não via a hora
de voltar para ti
não sei
se andei depressa demais
mas sei que algum sorriso eu perdi
vou pedir ao tempo
que me dê mais tempo
para olhar para ti
de agora em diante
não serei distante
eu vou estar aqui
não sei se andei depressa demais
mas sei que algum sorriso eu perdi
vou pedir ao tempo
que me dê mais tempo
para olhar para ti
de agora em diante
não serei distante
eu vou estar aqui
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Ballerina girl
Ontem ela foi à primeira aula de ballet. Tinha-me dito logo de manhã "não quero ir, mamã" e então expliquei-lhe que podia só ver, se não gostasse não teria que ir mais, mas que pelo menos experimentasse. Aceitou.
De tarde vinha feliz, "Fui dançar mamã. Saltei, saltei, saltei. (Pôs os braços em arco por cima da cabeça). Girei, girei, girei". Hoje de manhã disse que queria dançar como uma bailarina.
Nunca imaginei que a pusesse no ballet tão pequenina. A nossa médica aconselhou, eu queria muito que ela experimentasse, pela minha própria experiência, porque as aulas de ballet das pequeninas são absolutamente encantadoras, e o colégio proporciona essa actividade, tudo convergiu. Mas o que eu quero acima de tudo, é que ela se sinta bem. Que salte, salte, salte. E gire, gire, gire. E voe, voe, voe.
via Pinterest
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
[a vida]
Da última vez a sessão de psicoterapia teve que ser noutra sala. Em muitos anos deste processo acho que só tinha acontecido uma vez. Tudo, desde que entro pela porta até que saio, sensivelmente uma hora depois por essa mesma porta, faz parte da sessão. Para mim faz. E como tal, o acto de me sentar num outro sofá, numa outra sala, de outra cor, com outra planta, arranjar outra almofada para segurar, é significativo. Se não fosse, a "minha" psicóloga não me teria perguntado se me importava. Não me importei.
Percebi, em conjunto com outras reflexões, que a mudança já não me assusta. E que muito do que me impede de crescer, arriscar, ser feliz, apesar de ser o que conheço, apesar de ser uma esfera em que me sei mexer, apesar de ser o meu presente, já não é, nem quero que seja, o meu futuro.
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Ajustes
Novos horários, novas rotinas de trabalho. Já são mais as vezes em que saímos de casa os quatro, do que dois a dois. Levantamo-nos uma hora mais cedo, deitamo-nos também mais cedo. Há um esforço maior, uma preparação maior e mesmo assim, e porque os ajustes são mesmo assim, ainda há correria, ainda há coisas a melhorar. Já esquecemos o Verão que não chegou a ser e pensamos em como podemos aproveitar o que aí vem.
Raramente tenho trabalhado em casa, se por um lado me sabe mesmo bem estar noutro ambiente, por outro, sinto muita falta da minha Teresinha, de ter que a deixar. Da Bárbara também sinto saudades, muitas, conto as horas para as ver. Mas é assim que me sinto realizada, a investir mais na minha vida profissional. Não sinto culpa, sinto falta, sempre falta de alguma coisa que não tenho naquele momento, falta delas. Mas é assim que sou melhor Mãe, a fazer por mim, a fazer por nós.
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
pele
Ao fim de algumas semanas a beber 1,5l de água por dia, não posso dizer que tenha rejuvenescido. Há duas semanas que a Teresinha dorme a noite inteira, mas a Bárbara está em plena fase fóbica e demora duas horas para adormecer, e às vezes acorda cedo cedíssimo. Nem sei o que é mais desgastante, se é acordar uma vez a meio da noite, se é correr vinte vezes para o quarto delas ao serão. O olhar caído continua, das olheiras é melhor nem falar, mas a pele está visivelmente mais suave e luminosa. Acho que tenho que fazer isto mais tempo antes de ver ou sentir mais resultados. O que mudou mesmo e nem sei explicar porquê, é que agora sinto mais falta de beber água se não começar a fazê-lo desde que acordo. Mas só por isto [pela suavidade da pele] já tem valido muito a pena.
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
regressar
É altura de recomeços e aqui não é excepção. De diferente é que não houve um Verão, ou pelo menos uma retirada para um lugar onde se fizesse sentir. Não houve sequer uma pausa digna do nome, que me fizesse olhar ou encarar este Setembro como se fosse uma folha em branco ou uma agenda por estrear. Mas providenciei que, para elas, fossem de facto meses de férias, com tempo de qualidade em família e a conhecerem-se uma a outra, a criarem e a fortalecerem laços. A Teresinha volta a ter o sossego da casa para fazer longas sestas. A Bárbara volta ao colégio. Nós voltamos aos malabarismos com o tempo. Se por um lado me dá uma certa pena que acabem os dias sem horários e cheios de improvisos, é com alguma satisfação que recebo esta rentrée, apenas porque os [re]inícios são sempre novas oportunidades e trazem sempre promessas de alguma coisa. Daqui a nada prepara-se o Natal, depois o Carnaval e nessa altura já muitos de nós recomeçam a sonhar com o Verão. Precisamos destas balizas temporais para nos organizarmos e direccionarmos, para fazermos o balanço. Para nos confortarmos com o que há-de vir e queremos que o que venha seja bom. Fazemos por isso. E isso é buscar a felicidade e a paz de espírito.
sábado, 6 de setembro de 2014
sete meses
Tenho tantas saudades deste dia. Do dia em que te vi nascer. Do preciso segundo em que te vi nascer, minha pequenina, minha doce Teresinha.
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
água, peso, saúde
Li por aí sobre aquela mulher que passou a beber 3 litros de água por dia e que mostrou as mudanças bem visíveis no rosto. Acho admirável. São estes os exemplos a seguir, e cá em casa temo-nos desafiado a beber mais água, pelo menos um litro e meio por dia. Gostava [e vou] tirar uma fotografia do antes e de algum tempo depois, para comparar. Mas uma coisa que sinto e vejo para já, são os lábios mais hidratados, a pele mais lisa, ao fim de 4 dias apenas.
Também será um bom complemento agora que estou mais empenhada em perder peso, o que para mim está a ser muito difícil. Não por se tratar de um esforço que não compensa, mas sim de um esforço que ainda não tinha levado mesmo a sério, apesar de por várias vezes ter decidido e até planeado. Faltou-me a determinação. Foi preciso ver fotos minhas para perceber como realmente estou, desde a postura, à forma estranha que o meu corpo tem agora. Não sou eu, não me reconheço. E foi preciso chegar ao ponto de me levantar e sentir dores terríveis nos tornozelos, uma falta de energia brutal, danos colaterais de muito peso em excesso. Decidi obcecar, até me sentir confortável com isto. Rever a alimentação [eu adoro mesmo comer], rever a atitude, fazer compras com consciência, planear o exercício. Arranjei um caderno onde escrevo as coisas, ideia de uma amiga. Nunca me esquecer, nunca perder de vista o meu objectivo. E agora que já sei que dou conta do recado como mãe, está na altura, tão na altura de voltar a tratar de mim. E só espero não desistir, que as forças não me abandonem. Porque assim não sou feliz.
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
[playlist] da nossa futura casa
Sonhamos com uma casa. Não sabemos se nova, se recuperada, se projectada e construída por nós. Mas queremo-la, so bad. Sonhamos com os jantares que faremos no jardim de trás numa mesa grande de madeira. Sonhamos com as nossas filhas a brincar lá fora. Sonhamos com a felicidade nessa casa. Ele sonha com a sua horta, eu sonho com a minha sala cheia de livros, candeeiros e fotografias em molduras. E com as árvores que verei lá fora, do meu sofá. E em casa, ouviremos música, sempre.
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[a nossa casa] papéis
Cá em casa invertem-se os papéis convencionais. Ele trata das plantas, arranja o peixe, trata da horta, prepara os legumes antes de os guardar no frigorífico. Eu tiro medidas e faço cálculos, faço os furos na parede, monto os móveis que compramos. Muitas vezes faço-o sozinha, sem qualquer esforço. Talvez o facto de ser arquitecta me confira alguma aptidão para estas tarefas, mas por outro lado é a fase da obra a que menos me agrada, precisamente por toda a sujidade inerente. E outras coisas que não vêm ao caso. Seja como for, dá-me imenso gozo andar de nível, fita métrica ou de black&decker na mão e sonho com o dia em que vou pegar numa lata de tinta e pintar o quarto das miúdas. Comecei mesmo pelo quarto delas, com uma prateleira para livros. Depois coloquei uns cabides no hall. A seguir seria uma sapateira, mas acabaram-se as buchas e os parafusos. Depois serão umas gavetas, para montar. Quadros para fixar. E assim tudo vai ganhando um lugar, certo e definitivo. E eu gosto muito disso, dá-me paz e serenidade.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
douro
Passar uns dias fora este ano era um desejo, mas com o nascimento da Teresinha e com demasiadas incertezas, não fizemos planos. O tempo não se recomenda, por isso vamos passeando, convivendo com amigos e família, descobrindo sítios novos ao nosso ritmo, à nossa vontade.
Um destes dias fomos até ao Douro matar saudades e mostrá-lo às nossas filhas. [Há 4 anos fugimos para lá, literalmente, por um pouco de sossego, um mês ou dois antes de ficar grávida da Bárbara. Ficámos num quarto lindo sem televisão, decorado de forma simples e romântica, e com a vista mais maravilhosa: as montanhas altas, ondeadas, os socalcos, as vinhas, o rio, as quintas. Maravilhoso.
Não chegámos cedo, a nossa vontade era de ficar, dar entrada num hotel e passar a noite para aproveitar um pouco mais. Mas com duas crianças pequenas a improvisação tem limites.
Voltámos então por estes dias, a um Douro não tão profundo mas igualmente apaixonante. Demorei um dia inteiro a preparar malas para duas noites e fomos, iludidos pela ideia de descanso e de paz, mas foi a última coisa que tivemos. Num dos almoços no hotel, o Daniel interrompeu a refeição para ir mudar a fralda à bebé e a Bárbara quis ir com eles. Fiquei sozinha durante 10 minutos, em silêncio, na sala quase deserta, garfada atrás de garfada, limpava a boca, bebia água. Sem interrupções, sem mandar sentar, sem apanhar brinquedos do chão. Foi então que percebi duas coisas. Faz-me [nos] falta tempo assim, a sós ou a dois, mesmo sabendo que não vamos falar de outra coisa senão delas e que vamos morrer de saudades. A outra coisa é que fazemos isto agora por elas, o importante é que elas usufruam, se divirtam, brinquem e riam, mesmo que isso implique sacrificar o descanso. Vê-las felizes, em constante exploração e descoberta, é tão compensador.
O regresso foi doce e a Bárbara não poderia ter expressado melhor aquilo que também nós sentimos: "Mamã, eu adoro a minha casa".
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
domingo, 10 de agosto de 2014
síndrome dos SIMS desnaturados
Para quem conhece o jogo dos SIMS, imaginem o seguinte. Sabem quando um casal [de SIMS] vive na mesma casa e se apaixonam um pelo outro [no início do jogo e apesar de coabitarem é como se fossem estranhos] e depois perguntam-lhes se querem um bebé? Se a resposta for afirmativa, aparece lá uma pequena alcofa com um bebé para tratar. Sempre tive curiosidade para saber se aquele bebé eventualmente cresce, se terá nome e essas coisas. Mas nunca consegui ficar com ele. Era tal o frenesim de dar de comer, adormecer, brincar, etc., o bebé só chorava e os pobres dos pais não tinham tempo de responder a tudo. Acabava por vir a assistente social e levava o petiz.
Cá em casa as coisas não são tão drásticas, mas é assim que me sinto, como um SIMS desaustinado. Passamos muitos dias em correria, a cruzarmo-nos por uma casa caótica a acorrer a todas as necessidades das nossas filhas, a tentar deixar pelo menos o básico feito. Tem dias em que nem à noite temos tréguas e o sossego já chega demasiado tarde e as manhãs começam invariavelmente cedo. Na maior parte das manhãs acordo com muitas dores nos ombros, nos pulsos, julgo ser da tensão em que durmo. Quando me levanto pareço uma mulher sob o efeito do álcool. Na maior parte das noites deito-me ainda em estado de alerta. Só penso em tarefas e coisas que queria tanto ter feito e não fiz, sítios onde queria ter ido e não fui.
Uma das coisas que mais me custa é ver o D. chegar do trabalho e não o deixar sentar 5 minutos. Ele entra e leva logo com uma filha nos braços, para que eu possa ao menos começar o jantar.
Não sei como os outros conseguem, se passam pelo mesmo, se também sentem este esmagamento. Ouço muitas vezes que vai passar, que o tempo torna as coisas mais fáceis. Talvez. Eu queria-as mais fáceis já. Para aproveitar mais e melhor esta fase delas. São pequeninas, são surpreendentes, são tão deliciosas. E precisam tanto de nós. Mais do que a casa arrumada, ou de incontáveis brinquedos.
A assistente social não vem cá a casa. Se viesse gostava que ma arrumasse, que passasse umas roupitas a ferro, e talvez o fizesse, talvez, se lhe pedisse com jeitinho.
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
seis meses, teresinha
É a bebé mais cool, mais querida e sorridente. Adora a irmã, adora brincar com palhinhas, adora dormir de barriga para baixo. Não é muito fã de banho, mas adora os cremes e as massagens a seguir. Tem os pés mais lindos, o pescocinho mais cheiroso. Faz hoje seis meses que nasceu e é a nossa ternura, o nosso tesouro, a nossa caçula. ♥
*Quando publiquei o post era já dia 7. Mas o dia dela é o 6. Seis aos seis.
*Quando publiquei o post era já dia 7. Mas o dia dela é o 6. Seis aos seis.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
[playlist] para trabalhar
Agosto começa com muito trabalho. Se por um lado é mesmo bom, por outro tenho muita vontade de parar por uns dias e não pensar em mais nada senão praia, sandes e aproveitar as miúdas. Enquanto isso não é possível e para que o seja de facto, tenho que me abstrair de tudo por umas horas e dar o litro.
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domingo, 3 de agosto de 2014
[inveja]
Sempre que ouço "ai que inveja... mas inveja boa...!", "inveja branca", "inveja saudável", dá-me comichão. Da má. Há inveja. Inveja é um sentimento. Ponto. Lá porque se tem inveja, não significa que o invejoso magoe o invejado, ou que lhe faça mau olhado. [O mau olhado também tem que se lhe diga. Desde quando isso prejudica alguém? Furar o pneu a alguém, fazer uma rasteira, isso sim é mau. E depois dizem-me que las hay las hay, las brujas. E eu digo para mim, as brujas las hay dentro de nós, que somos muitas vezes os nossos piores inimigos.] Anyway, a inveja. É um sentimento como outro qualquer. Gostávamos te ter aquilo que alguém tem, sentir aquilo que alguém sente, estar no sítio onde alguém está. Na medida certa, a inveja pode ser impulsionadora. Para irmos à luta, para nos mexermos do sítio, para mudarmos o que não está bem.
Eu sinto inveja de muita gente. Nem branca, nem verde. Pura. Sou uma invejosa. Mas sou boa pessoa. Garanto.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
[manhãs perfeitas]
A minha máquina fotográfica é velhinha e foi a primeira coisa que comprei com o dinheiro do primeiro projecto que fiz. Sinto que já não me satisfaz, talvez por ver fotos tão boas publicadas, mais ou menos amadoras, com uma dimensão e qualidade incríveis. Também por culpa do iphone que está sempre à mão, inibo-me de a usar. Hoje precisava de sentir este gosto, o do clique. Momentos como este também são dignos de registo porque são autênticos e espontâneos. A luz do quarto estava linda, elas muito descontraídas [quase sempre] e eu com muita vontade de nunca esquecer manhãs assim.
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Elas
"Gosto de ti até à LUA. - disse ela e fechou os olhos.
- Ora se isso é longe - disse a Grande Lebre Castanha - É mesmo, mesmo longe."
terça-feira, 8 de julho de 2014
o melhor do meu dia
Hoje foi um daqueles dias. A Bárbara a convalescer de (mais) uma virose, a Teresa a fazer umas sestas curtinhas curtinhas. Eu a tentar fazer sopa, e a trabalhar alguma coisa, e a arrumar e a brincar ao mesmo tempo com uma e com outra e com uma e com outra. De tarde, e para poder concentrar-me no trabalho por algumas horas, resolvi deixar as pequenas com os avós. São cinco minutos os que separam as duas casas e não mais do que dois quilómetros, mas ao sair de uma rotunda, um carro com uma condutora distraída entrou na mesma faixa que eu, e acabámos por chocar. À Teresinha, que ia do lado do embate, não aconteceu nada, aliás, o carro ficou apenas com uns arranhões. Mas perante a postura agressiva e desconfiada da mulher, que depois chamou o marido, que também se comportou de forma agressiva e desconfiada, e vendo que não ia conseguir resolver a situação com uma participação amigável, resolvi chamar a polícia. Foi o melhor que fiz. Também me trataram por tu e por "colega", até fiquei arrepiada, juro. A certa altura deixei mesmo de lhes responder, de tentar argumentar, de dizer o que quer que fosse e só voltei a falar com os agentes. Desagradável e desgastante.
A noite não foi menos animada. A Bárbara "só" demorou duas horas e meia a adormecer, depois de passar o dia a desobedecer e a desafiar. Está naquela fase em que seduz para ver se a coisa passa sem castigo ou sem reprimenda. Esta toddlerice já acalmava, que eu quero ver os frutos da educação que lhe damos.
Hoje foi um dia difícil que se sucedeu a uma noite muito cortada. Mas quis fazer este exercício, o de encontrar os pontos altos, isso repele um pouco as más energias. Diria que o melhor do meu dia foi a Bárbara ter comido a sopa toda ao almoço. A maneira como a Teresinha me agarrou a cara e sorriu quando acordou da sesta. Os sorrisos delas. Os olhos delas. O café que o meu homem me tirou. Estar à mesa com ele e sentir que estamos no mesmo comprimento de onda. E tomar consciência de como estas pequenas coisas têm toda a importância do mundo, se deixarmos que nos preencham.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
A nossa casa
E então começámos a arrumar. Estávamos mesmo fartos de entrar em casa e sentir desânimo. Ou de não termos vontade de nos sentar a ver televisão, porque tínhamos primeiro que desocupar o sofá de babetes, livros, peças de puzzles, cabos de telemóvel e outras tralhas que tais.
Uma destas tardes levámos as crianças aos avós e arregaçámos as mangas. Eu disse "vamos começar pela sala, depois arrumamos a cozinha e o quarto das meninas". Passadas cinco horas, acabámos de pôr a última cadeira da sala no sítio. Encaixotámos livros que não líamos (um dia, na nossa casa de sonho havemos de ter uma parede de livros), deitámos fora aquilo que não nos servia, demos novos sítios às coisas, limpámos e arrumámos. A sala parece uma sala e não lavandaria e escritório e quarto de brincadeiras. Por lá ficou apenas o que nos diz muito. Os vinis, os meus cinzeiros de Luanda, as fotografias. Penso que assim deverá ser toda a nossa casa. Só deve conter aquilo que nos faz sentir bem, aquilo de que precisamos, aquilo que de facto usamos. Aquilo que nos faz falta. Afinal, é isso um lar.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
O melhor do meu dia
- Dorme bem Babá, a mamã ama-te muito muito muito!
- Eu também tamo, mamã...
- Tu és o meu amor.
- Eu sei...
terça-feira, 17 de junho de 2014
Argumentos de peso
Foi preciso bater no fundo para perceber o quão estou infeliz com o meu peso. Está no auge, sem ser à conta de uma gravidez, é o mais alto de sempre. Não sou de opinião de que "nunca se é magro demais", mas defendo o peso confortável, aquele em que nos sentimos bem. Não estou nem perto. Não gosto de me ver, não tenho energia, ainda tenho barriga de grávida. Sinto-me pesada e lenta, os meus tornozelos parece que duplicaram. Levo 15 quilos a mais, e 90% da roupa que tenho no armário não me serve. Animador.
O lado positivo é que me sinto determinada a perdê-los. Morro de vontade de ir ao ginásio, de fazer exercício ao ar livre. De trocar as massas pelas saladas. Ontem dei o primeiro passo, o primeiro compromisso. Fui ao ginásio, corri pela primeira vez, e apesar de só ter conseguido jantar quase à meia-noite, foi uma refeição muito mais leve do que era costume.
Tempo é o que me falta arranjar. Para me exercitar regularmente, comer de forma mais equilibrada. Aceitei que isto é um processo que tem que começar com motivação. Depois há que fazer convergir tudo para o mesmo objectivo. Não é a dieta em si que me custa, nem a mudança de estilo de vida. É começar e assumir o caminho. Mas sobretudo começar.
sexta-feira, 13 de junho de 2014
Mudanças
Desde que sou mãe aprendi que nunca nos podemos acomodar. Parece que os primeiros anos de vida das crianças estão balizadas por fases, a fase das cólicas, a fase dos dentes, a fase dos medos, a fase das birras. Quando pensamos que ultrapassamos uma, vem outra, quando pensamos que vamos dormir a noite toda, não vamos. Julgo que não há fases mais ou menos difíceis. No outro dia uma amiga dizia-me que o primeiro mês de vida do filho foi o mais complicado. No caso das minhas, achei que foi um mar calmo, em comparação com os seguintes.
De fase em fase o tempo passa, o tempo voa. As crianças crescem, os desafios aumentam, a nossa paciência, a nossa capacidade, a nossa resistência é posta à prova. E se há dias em que corre bem, há outros em que tudo se conjuga num caos, e a única coisa que parece acalmar a tempestade é mesmo o dia seguinte, a clareza de pensamento após algumas (poucas) horas de sono.
A mim, as mudanças trazem-me saudade, alguma angústia até. Problema meu, problema antigo.
Primeiro vejo sempre o lado mais nostálgico, depois é que olho para as vantagens. Hoje soube que a Teresinha não está a engordar muito e que é preciso suplementar a amamentação, e começar com a papa. Eu tinha altas expectativas, desta vez. Amamentei a Bárbara em exclusivo até aos 5 meses, altura em que introduzi a fruta e só começou com leite artificial aos 9 meses. A Teresinha tem pouco mais de 4 e a médica já me preveniu que só amamentarei mais 1, 2 meses no máximo. Não fico triste. Mas fico com uma saudade imensa da minha bebé pequenina, encostada a mim, pele com pele. Esqueçam, eu fico triste.
A Bárbara também está a passar uma fase difícil. Tem muito medo de noite e não quer estar sozinha. Pensámos (e hoje a médica também sugeriu) que puséssemos as duas a dormir no mesmo quarto. Por um lado a Bárbara sentir-se-á acompanhada, por outro, mais crescida e responsável. Tento nem pensar na logística da hora do deitar. Havemos de conseguir. E talvez me aventure no desfralde nocturno da Bárbara. Ou talvez deixe que ela acalme antes disso.
De uma coisa eu tenho a certeza. As mudanças, pelo menos a grande maioria, acabam por ser mais bem acolhidas por elas do que por mim. Pode não parecer, mas isso é uma coisa que me tranquiliza.
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