terça-feira, 27 de novembro de 2012

O dialecto da Bárbara

Ontem foi um daqueles dias que acabou completamente ao contrário. Fomos buscar a pequenina ao colégio, para depois irmos os três fazer compras para a despensa e dar um saltinho para ver a árvore de Natal. A Bárbara quer andar livre, raramente dá a mão, mas ontem estava muita gente e não podíamos perder muito tempo. Ainda havia as compras, o banho, a brincadeira, o jantar. Demos-lhe a mão, um de cada lado, e ela, a contragosto, arrastou-se literalmente. Segurei-a e senti um estalo no braço dela. Estava barulho, mas na minha cabeça fez-se silêncio. E depois o choro, aquele choro estridente. Magoei-a. Tentamos perceber se era caso para alarme. Agarrou-se à mão, eu senti um nó na garganta, e fomos ao hospital. Chorou o caminho todo, e parecia que nunca mais chegávamos. Entrámos e a conselho da médica fomos para a sala de espera brincar, e tentar que ela voltasse a mexer o braço para o levar ao sítio. E ao fim de umas horas isso aconteceu. Não foi preciso ir lá o ortopedista fazer o "clique". Durante aquelas horas no médico, vi a minha filha dizer palavras que nunca lhe tinha ouvido. O báco (barco). Ai a minha vida (ai viva). Cada vez diz mais. A má (o mar), a chave (vavo), o livro (vivo), a lebre (véve), atchim (tim), xixi (ssi-ssi) e uma palavra indecifrável, sempre a mesma, que define um qualquer objecto que quer alcançar. E fala, fala, fala. E mais uma vez, percebi que o tempo não pára, corre, voa. Caramba.
Adormeceu a caminho de casa, estourada. Mas quando foi efectivamente para dormir, nada a calava. Quería-nos, queria brincar, queria falar. Minha querida, doce filha. Custa muito ter que lhe cortar o barato, pô-la a dormir, sabendo que ela nos quer, tanto, naquele dia.
É por isso que ser mãe é tão bom, mas tão complexo. Mas tão simples. Basta fazer o melhor possível.
Mas ao mesmo tempo, parece que nunca nada é suficiente.

2 comentários :

  1. Oh linda...penso que o que sentes é comum a tantas mães...parece que estás sempre em falta, que podias ter feito melhor, que se calhar não estás a dar o melhor de ti...há dias que fico agarradinha a ele enquanto ele dorme porque sei que passou tantas horas longe de nós, que passou mais tempo com o pessoal do colégio do que com os papás...ser mãe como tu dizes é muito complexo mas também é muito inato! :)

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  2. E acho que esse sentimento, nos acompanhará sempre, ao longo da vida.
    A B. não tarda discursa :) Ainda bem que não foi nada de grave. Acontece!

    Beijinho

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