quarta-feira, 25 de junho de 2014

A nossa casa

E então começámos a arrumar. Estávamos mesmo fartos de entrar em casa e sentir desânimo. Ou de não termos vontade de nos sentar a ver televisão, porque tínhamos primeiro que desocupar o sofá de babetes, livros, peças de puzzles, cabos de telemóvel e outras tralhas que tais. 
Uma destas tardes levámos as crianças aos avós e arregaçámos as mangas. Eu disse "vamos começar pela sala, depois arrumamos a cozinha e o quarto das meninas". Passadas cinco horas, acabámos de pôr a última cadeira da sala no sítio. Encaixotámos livros que não líamos (um dia, na nossa casa de sonho havemos de ter uma parede de livros), deitámos fora aquilo que não nos servia, demos novos sítios às coisas, limpámos e arrumámos. A sala parece uma sala e não lavandaria e escritório e quarto de brincadeiras. Por lá ficou apenas o que nos diz muito. Os vinis, os meus cinzeiros de Luanda, as fotografias. Penso que assim deverá ser toda a nossa casa. Só deve conter aquilo que nos faz sentir bem, aquilo de que precisamos, aquilo que de facto usamos. Aquilo que nos faz falta. Afinal, é isso um lar.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O melhor do meu dia

- Dorme bem Babá, a mamã ama-te muito muito muito! 
- Eu também tamo, mamã...
- Tu és o meu amor. 
- Eu sei...

terça-feira, 17 de junho de 2014

Argumentos de peso

Foi preciso bater no fundo para perceber o quão estou infeliz com o meu peso. Está no auge, sem ser à conta de uma gravidez, é o mais alto de sempre. Não sou de opinião de que "nunca se é magro demais", mas defendo o peso confortável, aquele em que nos sentimos bem. Não estou nem perto. Não gosto de me ver, não tenho energia, ainda tenho barriga de grávida. Sinto-me pesada e lenta, os meus tornozelos parece que duplicaram. Levo 15 quilos a mais, e 90% da roupa que tenho no armário não me serve. Animador.
O lado positivo é que me sinto determinada a perdê-los. Morro de vontade de ir ao ginásio, de fazer exercício ao ar livre. De trocar as massas pelas saladas. Ontem dei o primeiro passo, o primeiro compromisso. Fui ao ginásio, corri pela primeira vez, e apesar de só ter conseguido jantar quase à meia-noite, foi uma refeição muito mais leve do que era costume.
Tempo é o que me falta arranjar. Para me exercitar regularmente, comer de forma mais equilibrada. Aceitei que isto é um processo que tem que começar com motivação. Depois há que fazer convergir tudo para o mesmo objectivo. Não é a dieta em si que me custa, nem a mudança de estilo de vida. É começar e assumir o caminho. Mas sobretudo começar.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Mudanças

Desde que sou mãe aprendi que nunca nos podemos acomodar. Parece que os primeiros anos de vida das crianças estão balizadas por fases, a fase das cólicas, a fase dos dentes, a fase dos medos, a fase das birras. Quando pensamos que ultrapassamos uma, vem outra, quando pensamos que vamos dormir a noite toda, não vamos. Julgo que não há fases mais ou menos difíceis. No outro dia uma amiga dizia-me que o primeiro mês de vida do filho foi o mais complicado. No caso das minhas, achei que foi um mar calmo, em comparação com os seguintes. 
De fase em fase o tempo passa, o tempo voa. As crianças crescem, os desafios aumentam, a nossa paciência, a nossa capacidade, a nossa resistência é posta à prova. E se há dias em que corre bem, há outros em que tudo se conjuga num caos, e a única coisa que parece acalmar a tempestade é mesmo o dia seguinte, a clareza de pensamento após algumas (poucas) horas de sono. 
A mim, as mudanças trazem-me saudade, alguma angústia até. Problema meu, problema antigo. 
Primeiro vejo sempre o lado mais nostálgico, depois é que olho para as vantagens. Hoje soube que a Teresinha não está a engordar muito e que é preciso suplementar a amamentação, e começar com a papa. Eu tinha altas expectativas, desta vez. Amamentei a Bárbara em exclusivo até aos 5 meses, altura em que introduzi a fruta e só começou com leite artificial aos 9 meses. A Teresinha tem pouco mais de 4 e a médica já me preveniu que só amamentarei mais 1, 2 meses no máximo. Não fico triste. Mas fico com uma saudade imensa da minha bebé pequenina, encostada a mim, pele com pele. Esqueçam, eu fico triste. 
A Bárbara também está a passar uma fase difícil. Tem muito medo de noite e não quer estar sozinha. Pensámos (e hoje a médica também sugeriu) que puséssemos as duas a dormir no mesmo quarto. Por um lado a Bárbara sentir-se-á acompanhada, por outro, mais crescida e responsável. Tento nem pensar na logística da hora do deitar. Havemos de conseguir. E talvez me aventure no desfralde nocturno da Bárbara. Ou talvez deixe que ela acalme antes disso.
De uma coisa eu tenho a certeza. As mudanças, pelo menos a grande maioria, acabam por ser mais bem acolhidas por elas do que por mim. Pode não parecer, mas isso é uma coisa que me tranquiliza. 

terça-feira, 3 de junho de 2014

Destralhar

É um termo que detesto, mas deparo-me com ele não raras vezes, pela blogosfera. Não é bem a realidade cá de casa, a de acumular tralhas. Não somos (nem podemos ser) consumistas. Mas há demasiadas coisas sem sítio definido, muitas roupas que já não servem. Há não muito tempo eu achava que era um desperdício comprar caixas, cestos e afins. Hoje em dia são a minha salvação. Depois de haver um sítio para uma coisa, deixo de pensar nela, porque sei onde está e onde pertence. Isto é tão óbvio, mas para mim foi uma aprendizagem tardia. Depois, atrelado ao acto de destralhar está aquele pormenor chatinho que é o desprendimento. O deixar ir, deitar fora o velho para entrar o novo. E isso é muito difícil, pelo menos para mim. Mas sempre que o fiz, na certeza de que era isso que queria, nunca me arrependi. 
Por exemplo, há uns dias livrei-me de uns diários antigos. Durante muito tempo escrevi diários, alguns descrevem períodos bem negros da minha vida. Peguei neles, abri-os mas não os quis ler. Hoje sou uma pessoa muito diferente da que era quando os escrevi. Não sei se é questão de um amargo de boca pelo que sentia na altura, pelo que passei. Depois de alguns anos de hesitação decidi que não queria ficar com eles. Preciso de aceitar que esses anos existiram, preciso de aceitar que fiz o melhor que soube. Agora preciso de cestas e caixas internas para arrumar muitos sentimentos e emoções. Deitar fora os velhos, os ressentimentos, os arrependimentos, os complexos, e deixar que as coisas boas se instalem, as boas vibrações, o optimisto e a alegria de viver. Para viver, de facto.