Vinte e três meses. Falta um para os dois anos, os terríveis dois. E textbook baby como ela é, claro que já faz birras de gente grande. Ontem não foi um dia fácil, porque voltou ao infantário depois de uma semana inteira em casa.
Quando chegou a casa pela tarde foi o descalabro. Pranto no banho e o pai a enervar-se e mais pranto. Fui lá pôr água na fervura, na cabeça da menina é que não dava porque ela desatou num berreiro, detesta água na cabeça e ontem ainda mais. E logo ontem tínhamos que lhe cortar as unhas, quase que lhe arrancava um pé-minha-rica-filha. E pelo meio ia esfregando os olhos, desesperada. Fui à caderneta, dormiu a sesta. Jantou bem e foi brincar. Hoje não houve Peppa, castigo por ter batido à mãe. Não se bate na mãe, mas parece que dizer-lho não basta, pelo menos hoje não. Atirou com tudo e foi preciso uma grande dose de paciência para repetir trinta vezes a mesma coisa "não-se-atira-o-livro", "não-se-atira-a-banana", "não-se-atira-o-Beco (o que era a Beca)". Já dizia a Tracy "pick your fights" e eu comprei-as todas hoje. Não a deixei ver a Peppa, não lhe dei maçã nem quando ela pediu "fabô" (por favor) depois de ter atirado com a banana, nem a deixei pegar em mais nada enquanto ela não apanhou o Beco. Vi que ela estava cansada, podia ter relevado algumas coisas. Mas hoje não senti que pudesse ou devesse ceder. E sempre calma, sempre sem perder a paciência lá levei a água ao meu moinho. Ela deitou-se exausta e muito meiguinha, porque dentro daquela cabecinha ficou a certeza de que estes pais querem o melhor para ela, mesmo que não a deixem ser rainha e senhora. Que grande responsabilidade esta de criar um pequeno ser. Deixar andar e ter uma futura psicopatazinha que não sabe lidar com a frustração não é opção. Darmo-nos ao trabalho agora e já e prepararmos esta criança para o mundo, é nisso que acreditamos. E mesmo que agora pareça que ela não ouve nada e que ignora, sei que um dia iremos ver frutos. Palavra de Mãe.