Aproxima-se o dia do 2º aniversário da B., e só consigo pensar como estava há dois anos atrás. Muito, mesmo muito grávida. A Bárbara quis nascer pontualmente às 40 semanas. Depois de uma gravidez boa, mas que começou com muito medo. Logo nas primeiras semanas tive um descolamento de placenta e fiquei em repouso absoluto. Tive tanto medo, que sonhava, sonhava e sonhava. E chorava. Um dia, acordei com a mão na barriga e com o som da minha própria voz a dizer "aguenta-te bebé".
Estava a chegar ao fim do primeiro trimestre e achei que não ia aguentar mais 6 meses naquele estado de pânico. Mas quando vi aquele serzinho a mexer tanto na ecografia das 12 semanas, quando lhe ouvi o bater do coração, rendi-me ao meu estado de graça e então tudo foi melhor. Às 16 semanas soube que era uma rapariga, não tinha grandes expectativas em relação ao sexo, mas fiquei tão feliz. Às 20 parei de vomitar que nem uma louca. E comecei a senti-la. A primeira vez foi no concerto de Natal, a ouvir a "Silent Night", tocada por uma orquestra fantástica. Três pancadinhas. Nunca mais na vida me hei-de esquecer. Às 32 semanas comecei a ir às aulas de preparação para o parto, e a não poder evitar o assunto. Nunca expressei as minhas preferências em relação ao tipo de parto, à amamentação, a nada, a não ser ao local de nascimento. Quis que a minha filha nascesse na mesma maternidade onde eu nasci. Assim foi e foi acertadíssimo. Quanto ao resto, eu só queria que fosse o melhor, para ela e para mim. Nunca desejei uma cesariana, nunca desejei que ela estivesse sentada ou numa posição complicada e que inviabilizasse o parto normal. Mas o parto normal também me assustava comó raio. O que tivesse que ser, seria, nada a fazer, ela tinha que sair.
Às 36 semanas parei com as voltas que habitualmente dava e restringi a minha actividade física às caminhadas matinais ou de fim de tarde. Já me custava conduzir, já me custava caminhar, dormir, tudo. Estava lenta, mas tinha muita energia, uma energia que não correspondia ao meu modo slow motion.
Às 39 semanas preparei-me. Depilação, manicure, pedicure. Mala das maternidade no carro. Fui de fim-de-semana com o meu homem e às 3 da manhã de um sábado para domingo, perante o ar cómico e incrédulo do recepcionista fiz o check out de um hotel em Barcelos, porque me rebentou a bolsa enquanto dormia.
Desta gravidez guardo as melhores lembranças, porque foi a espera pela minha doce Cuquinha. Gostei de a ter só para mim, de a sentir, gentil e terna, e não me canso de lembrar daquela fracção de segundo em que a vi pela primeira vez, e a primeira vez em que a pele dela tocou a minha pele, em que lhe senti o cheiro, do beijo que lhe dei na cabecinha ensanguentada. Passaram quase dois anos desse dia. Ainda sinto um nó quando me lembro de tudo isto. E de como sou feliz desde então. E tão completa.
Que texto tão bonito...
ResponderEliminarTão bonito, Sara.
ResponderEliminarFiquei com um nó na garganta.
Um beijo*