quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Dói-dói


Nestas últimas três semanas de paz de maleitas, a Bárbara tem adormecido impecavelmente na sua caminha, não demorando mais do que 10 minutos, tranquilamente, e sem exigir sempre a minha presença. Bebe o leite, embalo-a até que arrote, beijinhos de boas noites e deito-a. Ela põe-se na sua actual posição preferida: rabo espetado para cima, pernas dobradas, agarra uma madeixa de cabelo e chucha furiosamente até adormecer. Tem sido assim. E eu vou à minha vida, fazer aquilo que quero, ou que preciso de fazer. 
Ultimamente o forrobodó dá-se durante a noite, com pesadelos e acordanços em grande, do género ter que peregrinar às escuras até ao quarto dela um considerável número de vezes. Hoje começou a chorar por volta das duas, e levei-a logo para a nossa cama, mas por mim, porque me senti mal com uma coisa que fiz ontem. Pela hora do jantar, estávamos na cozinha e ela de pijama já vestido mas sem pantufas. Virei-a de costas, e disse a brincar "vá, fora daqui, vá", fi-la caminhar para o hall e fechei a porta. Do outro lado, esperava uma gargalhada, ou que se pusesse a bater à porta. Em vez disso, ouvi um choro, muito sentido, muito fundo. Senti-me a estilhaçar, por dentro. Abri a porta, abracei-a e expliquei-lhe que estava a brincar, que estava ali e não ia embora. Caramba, os estragos que fazemos, mesmo sem querer.
De modo que é natural que esta noite ela se tenha sentido um pouco mais sozinha e eu tentei compensá-la, mesmo que nestas coisas de ser mãe tente que a culpa não tome conta de mim por tudo e por nada. Nunca serei uma mãe perfeita e hei-de fazer mais patacoadas destas. 
Adiante. Mesmo com a melhor intenção de dar um beijinho naquele pequeno "dói-dói", pô-la na minha cama não foi a solução. Ela não fica confortável, não sabe como se pôr. Optei por acampar no quarto dela, mas só consegui deitá-la com a promessa de que lhe seguraria a mão. Deitei-a, ela ficou e pareceu-me que tinha adormecido instantaneamente. Deitei-me também no chão e quando olhei, vejo-a muito caladinha, de mãozita estendida, aberta e a abanar por entre as grades, à espera que eu a segurasse. Segurei até que adormecesse. E assim ficamos mais umas horas, a sua mão pequenina contida na minha mão grande,  pele na pele, respirares compassados, desde aquele minuto até de manhã.




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4 comentários :

  1. Tabém sempre preferi acampar no quarto da minha do que trazâ-la para a nossa cama. Até um saco cama tenho, para essas ocasiões.

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  2. :) Também vou ter que arranjar um colchão para mim

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  3. Que ternura este texto e a imagem que transmite!

    Beijinho

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