sexta-feira, 23 de setembro de 2011

As mães

Há muito anos atrás, umas amigas convenceram-me a fazer o jogo do copo. Aquele que supostamente envolve espíritos, que podem ser bons ou maus, e a quem podemos fazer perguntas às quais eles respondem movendo o dito copo. Eu era a mais céptica e acho que fui a que saiu dali mais assustada. O raio do copo mexeu mesmo. Ou isso, ou as minhas amigas estavam combinadas para lhe dar uns empurrõezinhos. Anyway, saí de lá cheia de cagufes e não dormi nada de noite com tanto medo, que a certa altura tive que acender a luz. Na altura não teve piada nenhuma, mas agora rio-me da situação, porque para chegar ao interruptor, tinha que contornar a cama da minha irmã. Mas o terror era tanto que saltei mesmo por cima dela às escuras, e espetei-lhe com um pé na cara. Felizmente ela não acordou. E acho que nem sabe desta história.
Passados uns dias, resolvi contar à minha mãe o que tinha acontecido, e de como andava com problemas para dormir ultimamente. Ela, professora de Física-Química, mulher das ciências, tratou logo de me sossegar, dizendo que o poder da mente é muito forte. Não sei se é ou não, a verdade é que nessa noite dormi como um bebé (dos que dormem bem).
Hoje, e como acordei ainda um pouco incomodada com o que aconteceu ontem com a rapariga que vendia anjinhos, resolvi contar-lhe o episódio, e disse-lhe que me sentia ainda um bocado transtornada com isso. Mas a minha mãe disse-me que provavelmente eu tinha sido enganada, e que nos hospitais providenciam todos os tratamentos necessários e muito bem. Lá está. Não sei se é verdade ou se é mentira, mas sinto-me melhor. Até fico contente se realmente me tiverem contado o conto do vigário.
Não acho que tenha tido sempre a relação ideal com a minha mãe. Já tivemos muitos altos e baixos. Neste momento estou numa fase em que a compreendo como nunca. Mas mesmo antes disto, já a vinha olhando com outros olhos. Com os olhos da compreensão, não com os da crítica. Nem sempre é fácil. Mas é a minha mãe, e eu gosto dela para sempre. E gosto de como ela, vinte anos passados da primeira história que vos contei, ainda me tranquiliza e me sossega a alma. Como só uma mãe o sabe fazer.

2 comentários :

  1. Com o nascimento do meu pequeno descobri que a minha mãe, mais do que uma avó completa, continuava a ser mãe em toda a plenitude. Isso numa altura em que senti a distracção de muitos que me rodeavam, o que é compreensível pela novidade de um novo ser, pelo amor arrebatador que nos altera os comportamentos…Senti mudanças de muitos menos da minha mãe, porque uma mãe não se distrai, nunca… E agora que a sinto mais especial do que nunca, digo-lhe, mostro-lhe bem como a amo tanto, como é nela que me inspiro para ser o melhor para o meu P.

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