quinta-feira, 18 de março de 2010

Fim

Perto da casa dos meus pais vivia uma família muito engraçada e feliz. Era o pai, a mãe e as três meninas. A certa altura fizemos ginástica juntas, íamos aos aniversários umas das outras e a minha irmã e a menina do meio eram unha com carne. Eram uma família muito querida. Sempre sorridentes, amigos, sempre dispostos a ajudar.
Quando eu tinha 14 anos tive uma apendicite aguda e fui para o hospital. Ao acordar da operação vi uns olhos sorridentes a olhar para mim. Era a mãe. Era médica, soube que eu estava internada e foi ver-me. Levou-me um livro e muita companhia.
Os anos passaram e todas as meninas seguiram os seus rumos. No ano passado, a mãe morreu. Via-a poucos meses antes de morrer, tinha uns olhos muito tristes e hoje tenho pena de não ter ficado mais tempo a conversar com ela, porque foi a última vez que a vi.
Pergunto-me se é impossível ser assim feliz por muitos anos. Porque eles eram muito felizes. Eu sei. E estavam muito bem juntos, os cinco. E por obra mal feita do destino, essa felicidade acabou. Hoje cruzei-me com o pai, já se passou um ano desde que ficou sem a mulher e os olhos tão tristes, tristes. Nem me sorriu. Pudera. Eram tão felizes e veio a besta da morte e disse: Fim.

Sem comentários :

Enviar um comentário