segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Reencontros

Fiz a primária num colégio de freiras. Entrei com 5 anos para um mundo protegido mas muito rigoroso. E ao mesmo tempo amigável e acolhedor. Éramos muitos e lembro-me dos nomes de quase todos. Tenho muitas recordações, muito boas. Mas a verdade é que na altura de seguir para a escola preparatória nos separamos. Para a minha escola foi só uma colega a quem rapidamente perdi o rasto, e de alguns ia sabendo, de outros continuei amiga até hoje. 
Há uns meses atrás, graças às maravilhas facebookianas foi criado um grupo de antigos alunos do colégio onde foram publicadas algumas fotos de turma. Às tantas lá apareceu a nossa, uma foto muito bem compostinha tirada nos jardins da igreja, com a nossa Irmã, e eu, como sempre fazia nessa altura, a piscar os olhos por causa da luz. Começaram a aparecer as identificações, a adicionarem-se amizades e criou-se o grupo da nossa turma. Falou-se num encontro para café mas não aconteceu, depois num jantar, mas adiou-se. Até que finalmente se marcou uma data, um local e juntaram-se oito pessoas. Como eu tinha a Bárbara adoentada não fui jantar, mas fiz questão de ir lá ter para a sobremesa depois de a deitar. Pelo caminho fui sentindo um nervoso miudinho, e ainda pensei "tu queres lá ver que no facebook é tudo uma galhofa e eu agora vou lá chegar e eles vão estar todos envergonhaditos e calados?". Enganei-me redondamente. Todos em amena cavaqueira, descontraídos a fazerem um apanhado das vidas e dos percursos de cada um. Custou-nos desligar e ficou a promessa de novo encontro. Ah e uma foto, muito tremida que o dono do restaurante nos tirou. Mas o que mais adorei? Os sorrisos dessa foto não enganam. Estávamos todos genuinamente felizes por ali estar. E todos com uma mesma cumplicidade que já existia há muitos anos, há sensivelmente 25 anos atrás.

Da semana passada

Ontem, já no fim do dia e do fim-de-semana (tão breve) preparei as roupas, fiz os menus e a lista de compras para a semana. Vi o que tinha "na despensa", fiz máquinas de lavar. Planeei o trabalho e calendarizei coisas importantes. Eficiência? Sabem bem que não, é mesmo só para evitar uma semana dos infernos como a que passou. A começar com meltdowns da Bárbara todos os dias ao jantar e quando eu digo meltdowns é porque nem posso chamar birras, foi mais do que isso. Foi um desabar mesmo, de um momento para o outro ela sucumbia ao cansaço que até aí nem era visível. Passava da genica e da brincadeira, a um estado de exaustão já difícil de reverter. Tivemos dias em que foi imediatamente cama, porque só aceitou leite e histórias. Outros houve em que conseguimos acalmá-la e dar-lhe o jantar. Se por um lado posso culpar a enorme constipação com que ela anda, por outro também fui em parte responsável porque houve dias em que me distraí com a hora do jantar, ou perdi mais tempo com compras de última hora e com questões de trabalho, a parte da organização falhou, again.
Também foi semana de ecografia e é sempre uma semana especial. Está tudo bem com a pequena (é mesmo uma pequena, ohhhhh, para aqueles que ainda depositavam esperança num engano). O médico pôs a maquineta em modo 3D e conseguimos ver uma carinha laroca muito parecida com uma outra cá de casa. Adorei! Sempre disse ao Lopes que gostava que elas fossem muito parecidas. Mas o que realmente me trouxe alívio e felicidade foi estar tudo a correr bem. E até me queixei menos desde então, de dores e enferrujamentos vários.
A Bárbara continua um pouco a leste disto de estar quase a ser irmã mais velha. Por mim, fine. Ela percebe quando tiver que perceber e nós cá estaremos para agir em conformidade. De resto, está encantadora a catraia. Canta que nem um rouxinol, adora andar com relógios (do pai, da avó) e de óculos de sol. Uma pindérica. Já diz que está zangada, cansada e com sono. E ontem trouxe-me o telemóvel e disse "pega, Sara".
Às vezes nem acreditamos que vamos passar por tudo de novo, com a new baby girl. Pelas fases giras, e pelas outras menos boas. Nem sempre me sinto com força para enfrentar de novo noites mal dormidas, cólicas, dentes. Estamos "mal" habituados, a Bárbara já dorme a noite inteira há mais de um ano. Por outro lado, já temos experiência e já não vamos enfrentar as "primeiras vezes" com tanta dúvida. Espero eu.
Dito isto, é começar a semana chuvosa com alegria. Já dá vontade de pensar em castanhas e botas quentinhas. Havendo saúde (e esta com a saúde!, pensam vocês), não é preciso muito mais.


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Eu gostava de viver num mundo civilizado

Acredito que esta minha tendência, vá, para reparar nestas coisas seja também fruto de uma qualquer oscilação hormonal bem própria do meu estado de graça. Também mas não só. Há algum tempo que tenho vindo a reparar com especial atenção na quantidade de gente mal educada que anda por aí. 
Por exemplo, no trânsito. Não há dia nenhum em que pegue no carro e não encontre os chamados malucos da estrada, que não respeitam sinais de STOP ou de perca de prioridade, que vêm de trás e aceleram a marcha só para não facilitar a entrada na autoestrada ou na faixa, sei lá, ficava aqui o dia todo. 
Nos supermercados e lojas. As filas prioritárias, os elevadores, são para esquecer. Estão lotados com toda a gente menos aquela que realmente precisa. E quem precisa leva com uns olhares desconfiados"hmmm, será que aquilo é mesmo síndrome de Down?, não sei não". 
No mundo do trabalho. Nunca vi tanta porcaria, tanta falta de dignidade numa oferta de emprego. Ou pedem pessoas para trabalhar horas incontáveis de graça ou quase, ou colocam uma lista tão extensa de requisitos que é quase impossível não nos sentirmos humilhados ou inibidos de responder. Ou então, quando se trabalha, as merdas que têm que se aturar, nomeadamente de alguns clientes que se vêem no direito de exigir e exigir mais e de ser mal-educados, rudes e pedantes (o que para mim é tudo a mesma coisa).
Na internet nem se fala. Basta ler a caixa de comentários de algum grupo no facebook, ou de um blog, sobretudo de um com grande número de leitores para bater com os olhos em barbaridades de fazer arrepiar. Não há noção dos limites, é assustador.
O meu homem diz que gente mal educada sempre houve. Eu acredito. Mas a verdade é que nunca me cruzei com tanta. E quantidade de pessoas bem educadas, gentis, simpáticas está a escassear. Muitos dizem que é da crise. Eu também acho que é a crise. Mas não a financeira.


terça-feira, 8 de outubro de 2013

Ter tempo

Levantar cedo, por muito que custe, proporciona manhãs muito tranquilas. Cá em casa temos muita dificuldade em fazê-lo. Muita mesmo. Lembro-me que quando era miúda, a minha mãe ou o meu pai iam acordar-me para a escola já prontos, ou quase prontos, já vestidos, frescos e bem cheirosos. Ok, ainda assim nem sempre as saídas de casa eram pacíficas, mas nós éramos três filhos e nunca ninguém ia para lado nenhum sem pequeno-almoço. Acho que vale a pena o esforço. Há mais tempo para imprevistos, chega-se mais cedo e o dia começa melhor.
O mesmo se passa com outras horas e outros momentos do dia. Planear, prever, programar é importante, com tempo, para poupar tempo. E para poder aproveitá-lo em coisas realmente importantes. Então, viver a vida com pressa, num frenesim, é cada vez mais coisa para me deixar com a sensação de que não estou a vivê-la de todo. E a perder muita coisa boa.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

*

Tenho um sítio na praia onde gosto de trabalhar. Chamo-lhe o meu beach office, é já conhecido neste blogue. Tenho electricidade, tenho internet e um ambiente calmo. Algumas vezes sinto-me desconfortável por causa da temperatura, e nem sempre a luz é a melhor, sobretudo se for para trabalhar com imagem. Ou seja, não dá para vir todos os dias (até porque o café aqui é caro), mas de vez em quando sabe muito bem estar neste espaço, de grandes janelas. E sobretudo com um dia como hoje, morno e solarengo. De vez em quando páro o que estou a fazer e olho lá para fora, para o areal e para o mar, que hoje parece um enorme lago. Há três ou quatro pessoas na esplanada, umas estão a conversar, outras a ler. A mim só me apetece largar a correr pela areia. Mas além de não ter propriamente mobilidade para isso, era um bocado parvo. Mas com este cenário, não dá uma vontadinha danada?

sábado, 5 de outubro de 2013

Nós os dois

Saímos pouco só os dois, ou os dois só com adultos. E muitas vezes parece que nem faz falta, que podemos bem passar sem estar num ambiente que não tenha a ver com crianças, brinquedos e escorregas. Mas faz. Antes de sermos três, éramos dois e há que nos "acharmos" no meio de tantos desencontros, de nervos, às vezes de amuos e de zangas. Para nós funciona muito bem, é um timeout precioso, para namorar, relembrar o que nos move. Soube tão bem irmos Porto adentro a fervilhar de vida nas ruas, restaurantes e bares, rumo à Champanheria da Baixa. Beber uma sangria de espumante (para mim uma versão álcool free mas muito muito boa), ouvir boa música  num espaço lindo e conversar horas a fio foi um bálsamo. Queremos mais e vamos repetir. Espero que sim.


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A nossa casa

Foi há um ano que nos instalámos aqui, neste apartamento não muito grande, sem varanda, neste terceiro e último andar, vindos de três meses de inferno num outro apartamento, mais caro, mais fraco, com má vizinhança (alguma duvidosa) e muito barulhento. 
Arriscámos, com uma filha pequena a começar o infantário, e exaustos que estávamos, ao enfiar tudo de novo em caixotes e desmontar móveis, mudar tudo, mudar de novo.
Um ano depois posso dizer que, mesmo com todas as contrariedades que temos passado, mesmo quando suspiramos por uma casa, casa mesmo, estamos e somos felizes aqui, nesta casa sossegada e tranquila. É uma boa casa, como diria a Xana Toc Toc, "pequenina, acolhedora".
A Bárbara também é feliz aqui. Percorre a casa, gosta de aqui estar. Eu gosto de aqui estar. Tenho o silêncio que preciso para me concentrar no trabalho, tenho um espaço agradável que posso cuidar. 
Até podermos ter a nossa casa com jardim, é aqui o nosso lar. Até o espaço apertar, até podermos respirar mais fundo, é aqui o nosso lar.