Não tenho feito outra coisa senão queixar-me. Nem que seja calada, de mim para mim, mas muitas vezes verbalizo, tem que ser.
Não durmo nada de jeito há meses, primeiro porque tinha insónias, agora continuo com insónias e não tenho posição. Não sei pôr as almofadas, perco-as durante a noite, fico nervosa porque quero mexer-me e não acordar o Daniel, mas quero mexer-me furiosamente, como os cães quando procuram posição para aninhar. Dão voltas e voltas e mais voltas até que ficam. E eu estou assim.
Lesionei a virilha, ou o aductor, ou ambos, nem sei, sei que o estrago foi considerável.
Doem-me as costas, na zona lombar e por vezes se me sento ainda demoro uns bons minutos para conseguir voltar a pôr-me de pé.
Tenho azia, cada vez mais e os enjoos voltaram para me atormentar. Não consigo comer carne umas vezes, arroz outras.
Os pés e as mãos já se me incham e ontem tirei a aliança. Mas custa-me, falta-me qualquer coisa aqui no anelar esquerdo, no sítio onde está uma tira de pele mais clara.
E as caimbras.
E é a bexiga, que aqui a mocinha mais nova acha que é um trampolim fantástico. Nem falo da incontinência.
Sinto-me com mau feitio, mas ao mesmo tempo tranquila. Só não suporto programas de talentos com plateias aos gritos, ou as notícias, ou documentários sobre presidiários perigosos (sorry babe).
E tenho fome de loba, mas fo-me-de-lo-ba. Mas depois começo a comer e fico logo cheia. Emociono-me com anúncios de televisão e oculto da cronologia do facebook todas as más notícias, sobretudo as que se referem a crianças pequenas.
Estou arrependidíssima de ter optado por ser seguida apenas no público, e não fazer uma eco de 4 em 4 ou de 5 em 5 semanas, como na gravidez da Bárbara está a deixar-me um bocadinho desesperada, mas é segredo.
Não estou uma pessoa propriamente adorável. Mas no meio disto tudo, de tanta queixa e angústia, sinto-me feliz. Sinto-me com esperança, curiosa, atenta, até bonita. Talvez por finalmente abraçar, (ou aceitar nem sei) estas minhas dores. Saber que chateiam, que moem, que limitam, mas que não tenho que gostar delas, não tenho que achar que são por uma boa causa, que são, mas eu queria era passar bem. E por saber que há mulheres que passam por muito pior, muito muito pior e enfrentam tudo e enfrentariam mais ainda. Nem sempre ser forte é aguentar tudo calada, por vezes é mesmo dizer "já chega", "não quero", "dói". Isso não significa que se vão baixar os braços, mas sim aceitar que não se é invencível, nem perfeito. Admitir que se é humano. Isso sim, é uma grande força.