Teresa, hoje é o teu primeiro aniversário. É inacreditável como passou tão rápido, para onde foi o tempo? Escrevo sobre o dia do teu nascimento com um ano de distância, aquilo que me ficou gravado. E tenho saudades, sabes? Por isso escrevo para ti, filha, porque gosto tanto de me lembrar, de tudo desde que estás aqui, mas sobretudo do dia em que te conheci.
Quando, nas últimas consultas no obstetra, ele me disse que tínhamos que marcar indução de parto, não acreditei que tivesse mesmo que ser. Não queria que fosse assim, queria que fosse o mais natural possível. Mas chegou o dia marcado e tu ainda não tinhas querido nascer.
Saí de casa naquela manhã muito fria e cinzenta bem cedo, de malas para a maternidade, com a certeza de que a próxima vez que entrasse em casa, seria contigo. Deixei a tua irmã a dormir e emocionei-me um bocadinho quando me despedi da tua avó. Ela ia levar-te ao colégio e depois para casa dela. Lembro-me de passar na Ponte da Arrábida e me sentir muito ansiosa. Olhei para o céu muito negro, para o rio, para a cidade, para o teu pai. Não dizia nada, mas eu achei que ele estava nervoso também.
Chegámos à Maternidade e estava tudo caótico, muito barulhento e confuso. Fomos para cima, onde já havia silêncio e calma. Preparámo-nos, vieram as enfermeiras, ligaram o CTG, puseram o soro a correr e a ocitocina e depois fiquei à espera. A futura mãe ao meu lado chorava com dores, mas connosco estava tudo bem. Às vezes ouvia o choro de bebés acabados de nascer e de cada vez que isso acontecia ficava ansiosa por ouvir o teu choro, por te ver, por te pegar. De tarde as dores começaram e eram bastante suportáveis, mas a noite caía e as coisas não evoluíam. Até que, a médica farta do ram ram, do pára-avança das contracções, ordenou a epidural e carregou na ocitocina. Tal como do parto da tua irmã, da anestesia à dilatação completa foram poucas horas, sentia as contracções muito fortes, muito longas e imaginei como seria se me doessem. Quando quis puxar eram 11 horas da noite. Não se ouviam bebés a nascer, não havia ninguém no corredor. Chegaram três parteiras, fecharam a porta e falaram comigo. Só se ouviam as vozes delas, muito calmas, muito tranquilizadoras. De repente senti-me muito, muito cansada, mas concentrei-me apenas em ouvi-las e em seguir tudo o que me diziam. Vinte minutos depois, vi-te. Vi-te a sair de mim. Os olhos fechados, a pele esbranquiçada, os braços cruzados sobre o peito. Fiquei completamente inundada de mil emoções. Depois choraste, e pousaram-te no meu peito. Disse-te “olá!”, o que fez rir toda a gente. O pai cortou o cordão que nos unia e segurou-te também, e depois de seres vista pelo pediatra, vestiu-te. Foi perfeito.
Na primeira noite estava uma grande tempestade e a enfermeira colocou-te ao meu lado na cama “assim ela fica mais quentinha, mãe, está um tempo muito feio”. Enrolei-te na curva do meu corpo, cheirei-te, peguei na tua mão minúscula e em vez de dormir fiquei a observar-te, a ver os teus traços, a ouvir o teu respirar. Estavas tão tranquila. Depois pensei, que um dia foste aquela manchinha na ecografia, aquele som do coração, depois aquela revolução na minha barriga, eras um nome, eras um futuro e agora, estavas ali, comigo, e era tão bom, tão maravilhoso. E continua a ser.
És o nosso tesouro, o nosso amor mais pequenino.
Feliz aniversário minha Teresa, minha querida, querida filha.