segunda-feira, 24 de março de 2014

Eu queria

Ter mais tempo para escrever aqui e para registar pensamentos curiosos que me vão surgindo (e são tantos, mas depois esqueço-me, duh). 
Ter mais tempo para tirar fotografias às minhas ricas filhas que crescem à velocidade da luz.
Ter mais tempo para brincar com uma, com a outra, com as duas, ultimamente tem sido só cuidar, cuidar, cuidar. E eu sei que não é pouco, mas eu queria sentar-me no chão com elas, ver a Bárbara mimar a Teresinha e dizer "a Teté pequeninaaaaaá!", e brincarmos com legos, lermos histórias e fazer bolas de sabão sem ter o tempo contado para ir fazer o jantar ou para dormir. 
Ter mais tempo para estar só com o meu Lopes, sem estarmos os dois a cabecear de sono, queria que pudéssemos ver um filme até ao fim na televisão.
Ver-me ao espelho e as únicas coisas pretas nos meus olhos seriam um eyeliner, um bom rimmel (eu sei, eu digo rimmel) e não estas olheiras. 
Ver-me ao espelho e sentir-me satisfeita por fazer o melhor que posso e que sei, e não sentir-me frustrada por tudo o que não consegui fazer.


quarta-feira, 19 de março de 2014

Os meus vizinhos

O meu sogro, que vive na aldeia, pergunta-nos muitas vezes se já conhecemos os nossos vizinhos. A resposta é sempre a mesma, não. Vivemos num prédio e mal nos cruzamos com as outras pessoas. Conhecemos de vista, já sabemos mais ou menos quem vive em que andar, mas não sabemos nomes, idades, nem o que fazem na vida. Estive grávida e em 7 ou 8 meses nunca me cruzei com a vizinha da frente, a não ser na véspera do nascimento da Teresinha. Podem imaginar o choque da senhora. 
Há poucos meses o meu homem bateu com o carro dele no da vizinha do andar de baixo. E ficamos a conhecer o casal do segundo andar. Ontem, ela tocou-me à campainha, vinha aflitíssima, sem conseguir falar, ofegante. Ficou fechada do lado de fora da porta, sem chave, sem telemóvel, e com o filho de 10 meses dentro de casa. A minha mãe estava em casa comigo e com as meninas, por isso pude ajudar logo, dei-lhe o meu telemóvel, fomos à porta tentar acalmar o menino e chamámos os bombeiros. Ela estava nervosíssima, em pânico, e eu sem saber o que fazer para ajudar, sem ser estar ali, fazer chamadas, passar um copo de água. Mas não podia fazer mais nada. Depois chegaram os vizinhos do rés-do-chão, depois o senhor do primeiro andar, que é polícia. E finalmente, os bombeiros. E o INEM. E a polícia! Foi aparatoso, foi assustador. À noite a vizinha, já mais calma, veio agradecer-me e disse-me que estava ali para o que eu precisasse. Apreciei o gesto, mas ainda mais saber que vivem no meu prédio boas pessoas, simpáticas e voluntariosas. Não soube os nomes de todos, mas foi um começo e só foi pena ter sido naquelas circunstâncias. E o meu sogro vai gostar de saber desta história, de como conheci mais de metade dos meus vizinhos, e que estamos bem acompanhados aqui, na tão grande e estranha cidade.  

segunda-feira, 17 de março de 2014

o melhor do meu dia



Estávamos a brincar. A certa altura eu disse à Bárbara, "tu ainda és pequenina", e ela cantou-me assim do nada e com voz doce:

Sou pequenina
Quero crescer
Vou dizer às mãos
Vou dizer aos pés
Para não mexer
Vou dizer às mãos
Vou dizer aos pés
Para não mexer.

[Morri.]

quarta-feira, 12 de março de 2014

Ser mãe de duas

É absolutamente maravilhoso, mas nada fácil. Tem tanto de bom, de surpreendente, de normal, como de confuso, barulhento e às vezes, desesperante.
Os finais de tarde cá em casa são absolutamente caóticos. A Bárbara chega exausta e faz birras para tudo, grita muito, chora e esperneia. Para a Teresinha também é altura do dia mais difícil, é aquele choro prolongado de descompressão e às vezes cólicas. Por esta altura nós também já estamos bastante estafados, mas a termos que nos dividir em mil coisas. Um acalma uma, o outro acalma a outra, um põe a mesa, o outro acaba o jantar, um estende a roupa, o outro dá banho, um leva o lixo, o outro arruma tralhas. Se eu não conseguir despachar muitas tarefas durante o dia, à noite é para esquecer, o cansaço leva a melhor. Vou para a cama às 11 da noite, se não for mais cedo e adormeço instantaneamente. Foi difícil aceitar que tão cedo não vou ter a casa arrumada (na verdade nunca tive e agora muito menos), nem extremamente limpa, mas faz-se o que se pode, a bem da nossa sanidade mental. Há uns mínimos e esses temos que cumprir. Mas muitas vezes (acho que todos os dias) olhamos em volta desconsolados e dizemos "que caos", mas não é que possamos fazer muito mais do que o que já fazemos. Mesmo assim é frustrante e às vezes dá vontade de fugir a sete pés.
Hoje pela primeira vez tirei uma foto da Teresinha com a máquina fotográfica e não com o telemóvel. Estou muito enferrujada e as fotos não saíram muito bem. Mas desta gosto. Não lhe consigo tirar parecenças e ainda não ouvi duas opiniões iguais. Vão desde "é a cara da irmã!" a "é igualzinha ao avô". Para mim não é importante, posso dizer que os sorrisos das duas com este tempo de vida não podiam ser mais diferentes. A Teresinha é mais carrancuda, mais séria. Às vezes pergunto-me se foi de tanta tristeza e insegurança que senti durante a gravidez, terei stressado a miúda? Mas já abre bem os olhos, fixa em mim e já temos boas conversas. Depois adormece, e eu fico sossegada e a achar que não, ela não é nada stressada, eu é que sou. 


quarta-feira, 5 de março de 2014

Não adianta

Perguntar à minha filha de um mês, "Ohhhh, o que foi bebé?"