sábado, 22 de dezembro de 2012

Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal:

Já não te escrevo praí desde 1985, por isso o mais certo é já não te lembrares de mim. Eu sou aquela miúda que metia os pinipons no jipe de plástico do meu irmão para conhecerem os estrumfes e fugirem do Gasganete. Estás a ver...? Sempre fui boa menina. Aquela vez em que lhe dei um pontapé por ele me ter acertado com uma moeda de dois e quinhentos no dente da frente, foi legítima defesa. O meu dente escapou ileso por uma unha negra! Adiante.
Nunca te pedi muita coisa. Uma Barriguita, uma Barbie (já agora, aquela Barbie de franja não dava com nada, mas pronto), e pouco mais. Até fecho os olhos a tu não teres respondido ao meu pedido de um Nenuco, e ficamos conversados.
Pai Natal, o que te venho pedir aqui hoje é uma coisa baratinha baratinha. Tempo. Preciso de tempo, Pai Natal. A minha Cuquinha tem estado doente, e o tempo não me chega.
Cuquinha acorda e é preciso mudar a fralda, aquecer o leite, ver a temperatura, dar as vitaminas, fazer a nebulização, pôr as gotas no nariz, lavar os dentes, lavar a cara, vestir. Cuquinha vai com a mãe para a cozinha, e quer ver o " Paia" (Panda), qué "tei", qué pão, qué pepé. Depois colo. É de perder o apetite, não concordas?
Cuquinha vai para a sala, mas não vai à cesta dos brinquedos. Vai ao iPad, ao computador, à box, ao telemóvel. Cuquinha qué colo, mas depois quer chão. E colo outra vez. E chão. Vezes trinta.
Pai Natal, eu não consigo descrever todo o meu dia, porque não tenho tempo. Eu só queria tomar banho. E secar o cabelo. Lavar os dentes, passar fio dental, pôr um creme, na loucura passar uma base. Vestir-me com calma. Fazer as camas. Arrumar a cozinha bem arrumada. Ter a roupa em dia, de uma vez por todas. E o trabalho em dia. E o ginásio em dia. Eu preciso de tempo, Pai Natal. E de dar uma saídinha, só para espairecer. Achas que é pedir muito?
Já agora, pedia-te mais uma coisinha. Era para levares a minha já longa constipação para outro lado. Eu como laranjas e tudo, e já gastei dois packs de lenços. Eu não consigo temperar a comida, e tu sabes como o sal a mais faz mal. Também não consigo saboreá-la, nem cheirar nada. Pai Natal, eu agora nunca sei se a Cuquinha tem cocó. Não cheirar cocó até que é bom, mas também não consigo cheirar a pelezinha dela, nem o cabelinho. E isso faz-me falta, Pai Natal. Eu prometo que não te peço nem uma blusinha da Zara, mas leva-me lá esta coisa embora, que já chega.
Acho que é isto. Por agora. Espero que te portes à altura, porque senão nunca hei-de alimentar a fantasia da Cuquinha de que tu existes e fica o Menino Jesus com os créditos. 
Chantagem? Chama-lhe como quiseres. Faz o teu trabalho, que eu faço o meu.

Atenciosamente, 
Mãe da Cuquinha

3 comentários :

  1. Como uma carta destas, ele não terá como não te ouvir. Um Feliz Natal para ti e para os teus. As rápidas melhoras!

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  2. Devias ter guardado a Barbie. As franjas estão na moda e hoje poderia considerar-se vintage ;)
    As melhoras e Feliz Natal!

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  3. As melhoras rápidas! Com esta carta o pai Natal vai ouvir-te e realizar o teu desejo! De certeza!!!

    Feliz Natal!
    Beijinho

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